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Opinião: Ausentei-me, mas regressei à minha terra do Sado

Leia a crónica exclusiva de Custódia Rocha, uma emigrante no Luxemburgo que voltou para Setúbal.
Praia da Figueirinha.

Dizia Bocage, o poeta sadino: “Eu me ausento de ti, meu pátrio Sado” e foi isso que fiz no ano de 2008. Esta é a história de uma mulher, nascida e criada em Setúbal, mas que saiu da sua terra para emigrar quando surgiu uma boa oportunidade de negócio para o marido. Toda a minha família se mudou. Eu, o meu marido e os três filhos, o mais velho com 17 anos, uma menina com 11 e um bebé com apenas dois anos. Foram 14 anos a viver no Luxemburgo, longe de casa, porque Setúbal nunca deixou de ser o meu lar. E para cá voltei em 2022.

Cabeleireira a vida toda, foi isso que sempre fiz e sei fazer. Mesmo quando surgiu a oportunidade de viajar e viver noutro sítio, o único propósito era prosseguir essa carreira. A mudança trouxe muitos desafios e obstáculos, que não foram fáceis de driblar e alguns acabaram inclusive no tribunal.

A adaptação também não foi fácil e as saudades da pátria falaram mais alto. A aliar às experiências profissionais, que não foram boas, não me sentia feliz nem realizada naquele país novo e algo estranho para mim. Considerava que havia falta de dignidade no que respeita às condições de trabalho, ainda que seja uma pessoa segura de mim mesma. Há uma fragilidade muito grande e um desespero em não saber falar a língua e não partilhava nenhum tipo de amor intenso pela cultura luxemburguesa. Chegou a hora, assim, de me mudar novamente para Portugal — mais concretamente, para esta cidade sadina.

Voltei em agosto de 2022 e, quando vinha a caminho de Portugal, foi a minha irmã que me mostrou o anúncio que ditava a disponibilidade para aluguer de uma cadeira de cabeleireira no salão onde estou até hoje. Este é um lugar de camaradagem, empatia e liberdade. Consegui conquistar clientes, tenho um negócio por conta própria, que era outro dos meus objetivos, e estou feliz.

O clima foi outro terror. É que só me sinto bem na Praia da Figueirinha, com sol, calma, serenidade e um bom livro. Escolhi esta cidade para regressar porque considero ser de uma beleza inigualável e, para quem esteve fora, repara que está um local muito apelativo e turístico. A serra é lindíssima e é esta a terra em que nasci, cresci e quero viver. A mudança é necessária porque é quando percebemos que estávamos onde pertencemos e eu voltei para a cidade do mar. 

Custódia voltou a Setúbal passados 14 anos.

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