“Superlinox” é sinónimo de surpresa, obras de arte inusitadas e uma mensagem, alerta ou comunicado, sempre. Em qualquer parte do mundo, o artista setubalense já deixa uma marca facilmente identificável e, desta vez, não foi exceção. O Clube de Futebol Estrela da Amadora recebeu o FC Porto na passada sexta-feira, 15 de setembro, com três novos e curiosos adeptos — os “Homem-Bola”.
“Precisamos de amigos que nos acalmem, mas também que nos desafiem, que nos provoquem e que puxem por nós. É muito importante alimentar amizades destas. Um amigo meu que vive na Amadora percebeu que conseguia aceder ao telhado do Estádio José Gomes e decidiu — há umas semanas — telefonar-me e ‘atirar o barro à parede’”, explica o Banksy setubalense à NiS.
Ficou uma questão no ar. “Perguntei-me automaticamente porque haveria de invadir um estádio de futebol? E porquê o estádio do Estrela da Amadora? O que terei eu em comum com um clube de futebol que tem lutado com tudo o que pode para se manter na primeira divisão?”, disse o artista.
“Como podem verificar, não resisti ao ‘convite’ e avançámos com a intervenção dos ‘Homens-Bola’ na noite anterior a uma partida com ‘um dos grandes’. Os três invasores são discriminadamente três fervorosos adeptos de futebol. São Homens-Bola”, complementa quanto à obra de arte. As três estátuas, integradas na série “Heróis Descartáveis”, foram pintadas com tinta spray e foram usados diversos materiais.
Têm 1 metro e 87 centímetros de altura, 280 centímetros de largura e 60 centímetros de profundidade. Têm em comum a mão ao peito — como qualquer adepto convicto e amante do seu clube — e, no lugar da cabeça, está uma bola. Um está de chinelos, outro com sapatilhas e o último com mocassins, que está também com mala a tiracolo e em tronco nu. A estátua de sapatilhas tem um casual look, de T-shirt e calções e a obra que está de chinelos usa um polo de manga curta e uma carteira à cintura.
Clube do Estrela da Amadora acolheu “novos adeptos”
A verdade é que, ao contrário do que acontece com muitos dos trabalhos de Superlinox, que são retirados do local onde o artista escolhe colocá-los, estes três “adeptos” parecem ter sido adotados pelo Estrela da Amadora. “Um Despertar diferente no José Gomes. Três intrusos encontram-se no nosso telhado, prontos para assistir a mais uma partida. Será vandalismo? Ou apenas uma obra de arte?”, pode ler-se numa publicação feita no Instagram oficial do clube.
“Obra de arte”, “Brutal. Adoro”, “Obra de arte do incrível”, “Parabéns pela atitude de compreender a arte”, “Muito giros”, são alguns dos comentários que se podem ler na publicação, que conta com mais de 4000 likes. Alguns comentários mencionam que as estátuas deviam ser “tricolor” — uma vermelha, outra branca e a última verde, mas há uma razão para tudo.
“No mundo do futebol, as cores têm muita força e muito peso — como no mundo da política. Eu sou um artista livre e universal. E pretendo continuar a sê-lo. Se tivesse instalado um homem-bola de cada cor, a escultura seria uma bandeira ou um emblema. A única bandeira, clube ou religião com que estou realmente comprometido é com a minha linguagem, com a arte e com a poesia”, remata Superlinox.
Quem é o Superlinox?
Podia ser só “o Banksy setubalense”, mas é muito mais do que isso. Uma máquina de lavar roupa instalada no telhado de um prédio abandonado na autoestrada da A2, uma esplanada debaixo de uma ponte entre Setúbal e Palmela, uma chaleira num viaduto em Lisboa, uma torradeira no topo do Fórum Municipal Luísa Todi e estátuas de homens à escala real foram colocadas pela cidade sadina, mas também por muitos outros locais de Portugal.
Foi no final de 2020 que foi instalada a máquina de lavar cor-de-rosa e aí começou a curiosidade, as dúvidas — e até teorias da conspiração. Com a criação da sua página de Instagram, as perguntas tiveram algumas respostas, mais não fosse pelo significado que cada figura instalada tinha para si, mas também na representação daquilo que é a sociedade, os valores contemporâneos e as pessoas ao nosso redor — pelo menos, na sua visão intimista, mas tão reveladora.
Superlinox nasceu em Setúbal e cresceu no universo do graffiti e da arte urbana. Depois de acabar o curso de Artes na Escola Secundária Dom Manuel Martins, em Setúbal, entrou na licenciatura em Belas Artes, na vertente de Escultura, na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa.
“A verdade entre o autor e a obra” foi o mote para começar este projeto do Superlinox, tão conhecido e reconhecido atualmente. “No fundo, o que pretendo fazer é poesia através da arte e, com isso, divertir as pessoas e suscitar o diálogo”, disse à NiS em entrevista.
O Superlinox não “surge do zero, mas de um acumular de experiências de vários anos” e sabia que não podia usar o seu nome verdadeiro nem revelar a sua identidade daí o pseudónimo artístico. Muitas das suas obras acabam por ser retiradas dos sítios onde são estrategicamente posicionadas — porque sim, todas têm propósito e significado —, mas outras surgem e enquanto houver assuntos, há esculturas e existirá sempre Superlinox. Siga o Instagram e conheça melhor o trabalho deste artista setubalense.
De seguida carregue na galeria para ver ao pormenor este último trabalho do Superlinox, os Homem-Bola.