Raquel Gaspar, uma das fundadoras da Ocean Alive, a primeira cooperativa portuguesa ligada à proteção do oceano recebeu uma bolsa de mérito atribuída pelo Clube das Mais Belas Baías do Mundo. O prémio foi entregue na quinta-feira, 6 de junho, nos Paços do Concelho.
A bolsa, no valor de cinco mil euros a desenvolver-se por um período de dois anos, vai permitir a criação de um selo de boas práticas, isto é, um código de conduta composto por “10 mandamentos” a seguir. O grande objetivo é envolver as comunidades marítimo-turísticas e recreativas na defesa da Baía de Setúbal.
O projeto vai dividir-se em duas fases, uma por cada um dos anos. A primeira ligada à limpeza do Estuário do Sado e proteção das pradarias marinhas pelas comunidades e a segunda já voltada para a implementação de ações concretas pelos agentes designadamente as marinas, centros náuticos, operadores turísticos e embarcações privadas.
A atribuição do galardão foi aprovada por unanimidade no Congresso Mundial do Clube das Mais Belas Baías do Mundo, que decorreu no final de outubro de 2018 em Penghu, Taiwan, pelas delegações das 45 baías que integram o clube mundial. A 1.ª edição da Bolsa Mérito do Clube das Mais Belas Baías do Mundo, intitulada “The Oceans: Internacional Scientific Merit Scholarship on Preservation and Sustainability” resultou de um concurso internacional promovido em 2018 pelo clube constituído a 10 de março de 1997, em Berlim.
Maria das Dores Meira, presidente da Câmara Municipal de Setúbal, sublinhou que para a autarquia é “um enorme orgulho ter a única portuguesa ainda por cima da região a concorrer a este prémio, que reconhece o trabalho árduo realizado com bastante humildade e modéstia e com reconhecimento a nível mundial na proteção dos oceanos”.
Raquel Gaspar, 49 anos, é licenciada pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL), com especialização em Biologia Marinha e fez um doutoramento na Universidade de St. Andrews, na Escócia. O seu estágio e tese centraram-se no estudo da comunidade de golfinhos do Sado.
Durante esse período, apercebeu-se no terreno da necessidade urgente de proteção do habitat berçário das presas dos golfinhos do Sado, daí ter fundado em 2015 a Ocean Alive juntamente com Sílvia Tavares (bióloga marinha) e Sofia Jorge (gestora). A missão da cooperativa é proteger o oceano e as pradarias marinhas através de campanhas de sensibilização, envolvendo as mulheres da comunidade piscatória, as chamadas guardiãs do mar.
Raquel Gaspar recebeu, no passado mês de maio, uma bolsa da National Geographic para o financiamento do projeto “Guardiãs do Mar: Pescadoras Líderes para a Conservação do Oceano” durante um ano. Esta bolsa vai permitir que a comunidade piscatória feminina recolha dados sobre os habitats, que sirvam depois de ponto de partida à criação de um mapa de distribuição das pradarias marinhas do Estuário do Sado.
À New in Setúbal, a bióloga marinha explicou que após o mapeamento, a próxima meta da Ocean Alive a longo prazo é “popularizar as pradarias, tornando-as tão conhecidas como os golfinhos e incentivar as pessoas a dar nomes às espécies”. Em 2018, Raquel foi a única portuguesa a vencer a 8.ª edição “Terre de Femmes”, da Fundação Yves Rocher.