Passei mais de 20 anos da minha vida a gabar-me de que não me deixava influenciar pela publicidade. Continuo a ir ao restaurante de sempre aos domingos, mesmo que o do lado prometa um arroz de marisco delicioso a metade do preço; e não troco a minha costureira por outra que use uma máquina de última geração capaz de fazer bainhas em dez minutos.
Em muitos aspetos, sou uma alma velha que ainda escreve entrevistas em papel em vez de as gravar e chora com as músicas do Avô Cantigas. Sou também aquela pessoa que escolhe sempre a mesma cabeleireira — mesmo que ela só tenha vaga para o mês seguinte.
Acontece que me esqueci de que tinha um casamento no sábado, 8 de junho, e como já não havia tempo para marcar no sítio de sempre, comecei a procurar alternativas na zona de Setúbal.
Lembrei-me de pesquisar um cabeleireiro no centro comercial Alegro. Como é um sítio de passagem havia uma maior probabilidade de conseguir marcação para esse dia pela amanhã. Além disso, o penteado que queria era demasiado simples e barato: um brushing (cabelo totalmente liso, em linguagem popular).
Fui ao site da marca, que existe desde 1970 e tem 13 espaços por todo o País (incluindo Madeira). Além do contacto da loja, procurei o preço do serviço. Para o meu cabelo, que é longo, o brushing tinha o custo aceitável de 15€.
Na quinta-feira, 5 de junho, liguei para o salão para fazer a marcação. Disseram-me que trabalhavam por ordem de chegada e aconselharam-me a estar lá um pouco antes das nove, hora de abertura. Confirmaram-me, também, o preço do penteado que pretendia — se tivesse o cabelo curto ou médio era 10€.
Dez minutos depois da hora sugerida lá estava, a explicar a uma cabeleireira simpática o que pretendia. Disse-lhe, inclusive, que como tinha um vestido demasiado vistoso, queria apenas o cabelo completamente esticado, com duas pequenas mechas da parte da frente para trás das orelhas.
Ela pediu para me sentar na zona de lavagem e depois de molhar o cabelo perguntou se podia aplicar o champô da marca japonesa shu uemura. Respondi que como o meu cabelo estava danificado por causa da tinta, estava a fazer um tratamento da Kérastase em casa e não sabia se era compatível.
Disse-me que não havia qualquer problema e em momento algum referiu que esse champô iria ter um custo adicional. “Assim até experimenta um diferente”, acrescentou. Não estive mais do que cinco minutos naquela cadeira — o que é importante referir devido ao final da história.
Depois, passei para outra zona onde a cabeleireira secou e esticou o cabelo com escova e secador (o processo normal). Passados cerca de 30 minutos de chegar àquele local estava despachada.
Quando fui pagar, fiquei perplexa: ela pediu-me 41€ pelo serviço. 41€ que, segundo o preçário do site da Cidália Cabeleireiros, é superior a uma coloração num cabelo longo (que custa 40€).
Perguntei-lhe o motivo deste valor surpreendente. Disse-me que foi graças aos produtos da marca que aplicou durante a lavagem. Produtos esses que não me foram dados no final. Aliás, em momento algum de todo o processo a profissional disse que o seu uso tinha um custo extra. Muito menos que seria o valor exorbitante de 25€.
Paguei o preço final, confesso, por vergonha. Porém, acho que é uma situação que deve ser contada, para que mais ninguém passe por ela. Quando cheguei a casa, ainda procurei no site do cabeleireiro se os 25€ estavam tabelados.
O único serviço que encontrei com esse valor é um suposto “Tratamento de queratina”. Porém, tal expressão nunca foi usada enquanto lá estive, além de que não passei tempo suficiente na cadeira de lavagem para que ele fizesse efeito (se é que foi usado).
Agora, passados alguns dias, ainda me custa acreditar de cada vez que olho para aquela fatura. Resta-me tentar esquecer e voltar aos meus velhos e sábios hábitos.