Se estivéssemos no Castelo de Palmela, que fica a cerca de oito quilómetros de Setúbal, conseguíamos ver as luzes do NRS Sagres, ancorado no Cais do Porto de Setúbal até 24 de setembro. Por aqui, conseguimos ter noção do tamanho do navio e da beleza que o decora: não fosse este um dos ex-libris — se não o principal e mais condecorado — da Marinha Portuguesa.
A NiS foi convidada a juntar-se ao tradicional encontro a bordo do Sagres. Prontamente afilados, os marinheiros recebiam todos os presentes com boas-noites e convidavam a entrar na popa do navio, onde se iria realizar a habitual receção, no âmbito das Festas da Baía — anteriormente, a Semana do Mar. Entidades, agentes económicos, representantes municipais, autarcas e demais personalidades marcaram presença no encontro que durou cerca de duas horas, com início às 20h30.
Cá fora, eram vários os grupos de pessoas que chegavam para terem a última oportunidade de fotografar a paisagem noturna que o NRP Sagres proporcionava — partiu para a base na manhã de domingo, juntamente com a Caravela Vera Cruz, num desfile náutico. A partir desta segunda-feira, 25 de setembro, e até 30, poderá ver o galeão espanhol Pascual Flores.
Um dos pormenores que notámos, ao embarcarmos, foi a beleza da meia-lua a iluminar o Sado noturno — faltou observar os golfinhos e era o cenário perfeito. Todo este ambiente convidou ao começo dos discursos. “Quando falamos da Sagres lembramo-nos dos descobrimentos portugueses e quando chegam a Setúbal toda a história é relembrada”, começa por dizer André Martins, presidente da autarquia sadina, que agradece a parceria com a Marinha Portuguesa para que o evento decorra sempre com a presença do navio, e que espera continuar. “Todos os anos verificamos que há mais adesão e é mais importante a presença dos navios em Setúbal”, reforça o autarca.
Quanto à mudança do nome de “Semana do Mar” para “Festas da Baía”, o objetivo é reforçar ainda mais a ligação com o mar com a dinamização do evento. “É preciso dar ainda mais força a esta iniciativa ao dar importância à cultura, à tradição e ao património marítimo que a cidade tem”, remata André Martins.
O capitão-de-fragata do NRP Sagres, Mário Fonte Domingues, menciona que a viagem até à cidade do Sado é um “ato natural”, naquele que foi o último porto onde atracou depois de meses a navegar. O navio já foi visitado por “milhares” de pessoas numa “iniciativa de sucesso” que durará até ao final do mês de Setembro (onde poderá visitar outras embarcações). Também o presidente da Aporvela, Pedro Pinto Correia, relembra a união que o mar traz entre todos os envolvidos e que deve ser preservado e cuidado.
A iniciativa celebra este ano, em paralelo, os 100 anos do Porto de Setúbal, e foi esse o mote da intervenção do presidente do conselho de administração da APSS, Carlos Correia. “Apostamos muito nesta parceria porque de facto conseguimos criar um programa à volta das Festas da Baía mais ambicioso”, diz, reforçando a partilha de ideais e de projetos que tem em comum o Porto de Setúbal com as atividades desenvolvidas na Marinha Portuguesa.
Antes de ser Sagres, o NRP era “Albert Leo Schlageter”
O NRP Sagres foi construído em 1937, nos estaleiros Blohm & Voss, em Hamburgo, com o nome “Albert Leo Schlageter”. Foi o terceiro de uma série de quatro navios construídos para a marinha alemã. Em 1962 passa a pertencer à Marinha Portuguesa como navio-escola e a chamar-se Sagres.
“A Cruz de Cristo (vermelho) foi utilizada nas velas (branco) dos navios portugueses a partir do século XV. Era o símbolo da Ordem Militar de Cristo, da qual o Infante D. Henrique — figura de proa — foi “regente e governador”, desde 1420”, lê-se no site da Marinha Portuguesa. Tem 89,5 metros de comprimento e é “o navio mais condecorado da Marinha Portuguesa e o único a ostentar condecorações estrangeiras no respetivo estandarte nacional”, com viagens frequentes em representação do País e da própria marinha.
