Quando nasceu, o Instagram era um sítio muito diferente daquele que encontramos hoje quando abrimos a aplicação. A mudança, fruto do vendaval TikTok, acelerou ainda mais o consumo de fotos e vídeos. Para trás ficou parte do conceito original, onde as fotografias que tirávamos e colocávamos na grelha eram o ponto central da aplicação.
Hoje, entre stories e vídeos que rolam a uma velocidade furiosa, parece haver pouco tempo para demoras. E é neste espaço que se intromete a Lapse. A aplicação transforma essencialmente o telefone numa câmara descartável, com tudo o que de bom (ou mau, depende da perspetiva) isso acarreta.
A aplicação, que está apenas disponível para iOS, escalou o top e chegou ao pódio das mais descarregadas, à frente do todo-poderoso TikTok. O segredo estará eventualmente na nostalgia e no modo de funcionamento. Tira-se uma foto (ou “snap) e ela é posteriormente enviada para a dark room, a sala de processamento, tal com quem leva os rolos à loja para revelar. Terá que esperar um tempo indeterminado para ver o resultado, o que podem ser horas. Quando a encomenda está pronta, a app avisa-o.
As fotografias adotam também um estilo retro, com alguns filtros a emularem o processamento das máquinas mais antigas. Depois, cada utilizador pode partilhar ou arquivar o resultado. As imagens ficam disponíveis no perfil (ou “diário”) que pode ser personalizado com música, emojis, um signo do zodíaco ou um carrossel de imagens selecionadas.
A nostalgia é, então, o chamariz que pretende captar os que ainda têm memórias das máquinas a rolo. Para os mais novos, é algo de novo e que rompe com o imediatismo de aplicações como o Instagram ou o TikTok. E enquanto estas duas gigantes incentivam os utilizadores a fazerem crescer o lote de seguidores — e a conseguir acordos publicitários —, a Lapse encontrou o sucesso no caminho oposto: rumo a uma experiência mais genuína entre pessoas.
“Há hoje uma enorme pressão para que nos captemos e nos mostremos online”, revela a empresa no seu site. “Inspirados pela fotografia analógica, a Lapse foi desenhada para nos ajudar a reaver a forma como captamos e partilhamos memórias. Uma câmara para viver o momento e um diário de fotos privadas para amigos — não para seguidores.
Amigos, não seguidores. É sobretudo aqui que a aplicação pretende também diferenciar-se. Sendo certo que há outras aplicações que replicam fotografia analógica, nenhuma fez a aposta de um novo ambiente de rede social, sem gostos ou likes, apenas reações, emojis e comentários. A ideia é que a rede próxima esteja repleta de amigos e não de milhares de seguidores.
“Uma das nossas prioridades passou por eliminar esta ideia de competição da plataforma. Isto porque as redes sociais que existem criaram este ambiente de alta pressão”, conta à “Time” o co-fundador Ben Silvertown, que criou a aplicação em 2021, em conjunto com o irmão Dan.
Outra particularidade é o acesso à própria aplicação, que se faz por estes dias apenas por convite. Isto é: terá que receber o convite de algum utilizador da Lapse para se poder juntar à festa. Mas nem tudo são rosas.
Apesar do sucesso do Lapse nos últimos meses, outras escolhas têm afastado potenciais utilizadores. Quem quiser aderir, tem que dar à aplicação acesso aos seus contactos e convidar cinco amigos que ainda não estejam na aplicação. Nestes convites, o Lapse preenche automaticamente mensagens sobre a aplicação. Perante as críticas, esta pode ser a primeira funcionalidade a cair, uma possibilidade já admitida pelos fundadores.
“Se isso impactar e reduzir o número de downloads e nos retirar a posição na App Store, estamos confortáveis com isso. Queremos é construir um produto melhor e pensar a longo prazo”, conta Dan Silvertown.
Com 10 milhões de euros arrecadados em financiamento, Lapse continua sem gerar receitas, o que pode revelar-se um problema. Por enquanto, a inclusão de publicidade está posta de lado. O que não ficou fora dos planos é a eventualidade de criar “algo como funcionalidades pagas”. “Não é, para já, uma prioridade nossa”, revelam.