Da fisioterapia às linhas e agulhas: a história improvável da Pontos com Arte

Há uma nova forma de passar os sábados à tarde em Azeitão e envolve tecidos, agulhas, peles, ferragens e muita criatividade. A retrosaria Pontos com Arte, no coração da Vila Nogueira, prepara-se para lançar uma série de workshops de costura criativa, abrindo um novo capítulo na sua história. A primeira sessão está marcada para o dia 6 de dezembro e convida qualquer curioso, com ou sem experiência, a aprender a criar um modelo de mala totalmente novo, feito com uma combinação desafiante de materiais.

A proposta é clara: criar algo do zero com as próprias mãos, experimentar, aprender e sair com uma peça única e com a sensação de conquista, que só a criação manual proporciona. As fundadoras do espaço criaram um modelo de mala nunca antes trabalhado na retrosaria, que envolve tecidos de algodão, cintas, ferragens e peles.

Os workshops vão decorrer sempre aos sábados à tarde, com turmas até seis participantes, para garantir um acompanhamento personalizado e a partilha de saberes. Apesar do número limitado de vagas, caso as inscrições superem as expetativas, a loja promete abrir novas datas.

Uma amizade improvável, unida pela paixão pela costura

A história de Pontos com Arte é feita de linhas tortas que se endireitaram graças ao amor comum pela costura. Margarida Trindade, de 30 anos, nascida em Lisboa, mas criada em Azeitão desde os oito anos, trocou a fisioterapia pelas linhas e agulhas. “Estava no último ano do curso quando comecei a interessar-me por costura e conheci a Zina”, explica.

Zina Gonçalves, de 53 anos, é licenciada em Logística, mas aos 40 decidiu mudar de vida. “Estava farta do trabalho no escritório. Sempre adorei costura criativa e decidi formar-me para ensinar e dedicar-me a tempo inteiro a esta paixão”.

Juntas, começaram por dinamizar aulas à porta fechada num pequeno ateliê, onde Margarida geria os materiais e Zina ensinava. Em dezembro de 2019, Margarida congelou a matrícula na faculdade. O passo seguinte foi natural: em agosto de 2020, em plena pandemia, abriram uma retrosaria no centro de Azeitão, em plena rua principal. Chamaram-lhe Pontos com Arte, um nome que faz jus à filosofia: criar com o coração, com técnica e com respeito pelos materiais.

Muito mais que uma retrosaria

Na loja, não se vendem apenas tecidos, molas ou linhas, mas também ferramentas para criar de forma independente e sustentável. As aulas de costura criativa são o reflexo disso mesmo. Divididas por temas e técnicas, permitem aprender do zero ou aprofundar conhecimentos. Há aulas específicas para peças de bebé (como fofos, camisinhas ou saias), para malas e acessórios, ou para alterações de roupa, com especial enfoque na reutilização de peças antigas. “A guerra aqui é reciclar. Aproveitamos tecidos que já existem, peças que deixaram de servir e que podem ganhar uma nova vida”, sublinha Zina.

Com um espírito prático e inclusivo, as aulas são feitas por marcação e decorrem às terças, quintas e sábados. Os horários variam ao longo do dia, com sessões de manhã, ao meio-dia e ao final da tarde, adaptando-se à disponibilidade dos alunos. A loja fecha ao domingo e à segunda, mas está aberta durante o tempo das aulas, para quem quiser comprar materiais ou simplesmente procurar inspiração.

Aqui não se aprende apenas costura: há também aulas de crochê. Dedicadas tanto a iniciantes, como a quem quer aprender a fazer amigurumis (os populares bonecos em crochê), decorrem às quartas e sextas-feiras, também por marcação e com horários matinais. O ambiente é informal, acolhedor e, acima de tudo, generoso.

E como não podia deixar de ser, tudo o que é ensinado pode ser feito com os materiais disponíveis na loja. Desde agulhas de crochê e de costura, a linhas, rendas, tecidos, botões, molas, cintas, entre outros artigos cuidadosamente selecionados. A ideia é criar um ciclo completo: aprende-se, experimenta-se, compra-se e leva-se para casa o que for preciso para continuar a criar.

Um negócio com propósito

Mais do que uma loja, a Pontos com Arte é uma incubadora de talento artesanal e uma casa que promove a sustentabilidade. Ao incentivar a criação de novas peças a partir de roupas antigas e ao apostar em formações práticas acessíveis, o projeto assume um papel relevante na promoção de hábitos mais sustentáveis e conscientes.

“Queremos que as pessoas percebam que conseguem fazer coisas por elas próprias e que não é preciso estar sempre a comprar novo. Basta aprender e ter vontade”, explica Margarida, a quem pode contactar para se inscrever no novo workshop ou nas aulas de costura ou crochê. Basta ligar para o número 918191941.

Seja pela criatividade, pela poupança ou pelo impacto ambiental, este é um mote que vai ao encontro das novas tendências de consumo e que, passo a passo, está a criar uma comunidade local ativa, criativa e inspirada. O futuro da moda pode mesmo estar nas mãos de quem cose, ponto por ponto, a sua própria história, assim como Margarida e Zina o foram fazendo.