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Coronavírus: 8 conselhos para lidar com o isolamento

A psicóloga Beatriz Franco explicou à New in Setúbal como as famílias devem agir na quarentena.
Manter as rotinas em casa é essencial nesta fase.

A chegada do novo coronavírus a Portugal mudou a vida de todas as famílias. Evitamos sair de casa, ao máximo, encomendamos comida e medicamentos online e acompanhamos, com alguma apreensão, a evolução diária do número de infetados por Covid-19. Para conter a propagação da pandemia, a maioria das pessoas está em isolamento em casa, e por isso, mais sujeita a períodos de ansiedade e frustração.

Para ajudar as famílias a lidar com o período de quarentena, a New in Setúbal falou com a psicóloga clínica Beatriz Franco. A jovem setubalense, de 27 anos, mestre em Psicologia Clínica e da Saúde na área Cognitivo-Comportamental e Integrativa, trabalha na Clínica dos Afectos — Psicologia e Terapias Complementares, em Setúbal, nas áreas de Psicologia Infantojuvenil, Psicoeducação e aconselhamento parental.

Desde que o surto do novo coronavírus chegou à China que Beatriz Franco faz o acompanhamento psicológico de jovens, ajudando-os a gerir o medo e a ansiedade associados a esta fase. Manter o contacto com os nossos familiares e amigos é essencial para lidar com o isolamento, mas segundo a psicóloga, há muitas outras coisas que podemos fazer, como limitar o acesso à informação, experimentar novas atividades de lazer ou ajudar os outros.

Para lhe facilitar a tarefa, a New in Setúbal reuniu oito estratégias, que pode adotar para prevenir situações de ansiedade e viver a quarentena, da forma mais normal possível.

Naturalizar o medo e a ansiedade

Beatriz Franco começa por explicar que o medo é uma emoção básica humana, que nos permite reagir ao perigo. Por isso, numa situação de pandemia como a Covid-19, uma vez que nos sentimos em risco é natural termos medo e ansiedade.

Como estamos em perigo, ficamos em estado de alerta e o nosso corpo responde com sintomas físicos, como o batimento cardíaco acelerado. “Se estes sintomas forem causados pela ansiedade não são perigosos, mas passageiros. E a melhor forma de lidar com eles é aceitá-los, porque essa atitude vai permitir que adotemos comportamentos de proteção. Quem não tem medo está em risco, porque não vai tomar medidas preventivas”, refere a psicóloga clínica.

Desafiar os pensamentos negativos

O medo é natural assim como os pensamentos negativos automáticos. Aqui, segundo a profissional, “mais importante do que pensar positivo é pensar alternativo”. Devemos identificar o que estamos a pensar e a sentir e desmontar as nossas preocupações para depois podermos adotar estratégias de defesa adequadas.

Ao conhecer o nosso medo, a situação torna-se concreta, ou seja, mais fácil de ultrapassar. Além disso, identificar os pensamentos negativos permite-nos desafiá-los. Por exemplo: Será que o que estou a pensar é verdade? Que evidências tenho para pensar isso?

Limitar o acesso à informação

Perante todas as notícias dos órgãos de comunicação social sobre o novo coronavírus, Beatriz aconselha que limitemos o acesso à informação. “Em situação de pandemia é muito fácil entramos em pânico, que corresponde a um estado de perda de controlo. Por isso, além de consultarmos fontes credíveis, devemos focar a nossa atenção em aspetos que podemos controlar, como ficar em casa, lavar as mãos, e também dedicar a nossa atenção a histórias positivas dos casos recuperados, pessoas sem sintomas e campanhas de solidariedade, por exemplo”.

Manter as rotinas (autocuidado)

Neste período de quarentena, a psicóloga considera que é importante mantermos as nossas rotinas diárias, hábitos de alimentação, higiene, e as horas de sono. “As rotinas trazem-nos uma sensação de segurança, previsibilidade, organização e, consequentemente, maior estabilidade emocional. Nesta fase, aconselho a vestirmos uma roupa confortável em vez do pijama, porque nos motiva a enfrentar um novo dia”.

Quem está em regime de teletrabalho, deve definir um horário, intercalado com momentos de lazer cronometrados. “A ideia é fazer uma lista do temos de fazer, dividir tudo em sub-tarefas, respeitando os tempos que estipulámos para concretizá-las. Depois de acabarmos o trabalho, podemos treinar o autorreforço, ou seja, fazer algo que nos dê prazer, como ver uma série ou ler um livro”. Nesta fase, é igualmente importante separar as áreas da casa dedicadas ao lazer e ao trabalho.

Para as pessoas que não estão em teletrabalho, mas continuam em casa há o risco de os dias parecem todos iguais. Neste caso, a solução pode passar por fazer atividades diversificadas durante a semana para que os dias pareçam diferentes.

A criação de um horário de trabalho também se aplica aos miúdos, que estão a acompanhar as aulas, através da telescola e ensino à distância. No entanto, Beatriz Franco alerta: “É importante que os pais estabeleçam um horário e regras, mas que também haja tempo livre, que não seja preenchido com nenhuma tarefa para que os jovens possam estar com a família e ter momentos de lazer”.

Manter o contacto com os familiares e amigos

De acordo com a jovem setubalense, esta fase não deve ser de “isolamento social, mas de isolamento físico”. Estar confinado em casa não significa que se devam cortar os laços sociais, daí que Beatriz sugira formas de comunicação à distância, preferencialmente em formato de videochamada, onde se possam ver as expressões faciais e ouvir a voz dos nossos familiares. Este período de isolamento também pode servir para desafiar a criatividade, como partilhar almoços em família à distância ou jogar online em grupo.

Gerir as relações familiares

Com a maioria das pessoas em casa, é normal que as discussões familiares aumentem. “Nesta fase, devemos ser tolerantes connosco próprios e com os nossos familiares. E até podemos aproveitar esta oportunidade para perceber os padrões de comunicação das nossas famílias e explicar o que estamos a sentir, através da criação de legendas emocionais”, revela Beatriz Franco.

Descobrir novos talentos

Normalmente quando iniciamos um ano novo, escrevemos sempre uma lista de coisas que gostávamos de fazer, mas que nunca tivemos tempo por causa do trabalho. Ainda que esta fase de isolamento não deva ser encarada como “um período de férias”, Beatriz Franco aconselha a aprofundarmos atividades que sejam do nosso interesse ou experimentar algo totalmente novo, como bricolage, culinária, costura, ou tocar um instrumento musical.

Ajudar os outros

Além de mantermos as nossas rotinas individuais, devemos tentar “fazer algo por alguém”, seja distribuir alimentos e medicamentos a um vizinho, entrar num grupo de voluntariado, apelar ao isolamento social nas redes sociais, costurar máscaras, cantar num concerto solidário, entre outros. “Assim vamos conseguir continuar ativos e aumentar a sensação de autoeficácia”, conclui Beatriz Franco.

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