Se quando apareceu a máquina de lavar roupa cor-de-rosa em Setúbal, há quase quatro anos, ninguém conseguiu associar a quem, onde e quando lá foi colocada, hoje a marca do artista setubalense Superlinox é pública e, mais do que isso, necessária. É que há sempre um significado — aliás, vários, entre o que ele quer dizer e o que nós percebemos — e, no mais recente trabalho, o convite para revelar um novo produto da sua imaginação veio da cidade da Horta, Ilha do Faial, nos Açores.
“São sete da manhã e o Orlando já está na praia pronto para enfrentar o mar açoriano. Há quem diga que o Orlando é um velho maluco. Eu discordo. Totalmente”, é o que podemos ler na descrição da publicação que apresenta o Orlando (ou o Elogio da Velhice), uma estátua com 1,92 metros, por 91 de largura e 61 de profundidade. É a figura de um homem, pintada de amarelo, com sunga de banho e óculos de natação, além das longas barbas — o único “pelo” que existe no corpo desta obra de arte.
Com as mãos na cintura e a contemplar a bela vista da Praia do Almoxarife, é impossível não reparar na tatuagem, feita por Samina, com a cara de Albert Einstein, o génio, físico e matemático alemão do século XX que desenvolveu a Teoria da Relatividade. Nesta figura, o desenho é caricato e curioso, embora muito famoso. Einstein, com o cabelo despenteado, bigode grosso e olhos bem abertos, está com a língua de fora, numa alusão à fotografia tirada em 1951, por Arthur Sasse, depois de celebrar 72 anos de vida, no Princeton Club.
A simbologia desta escultura está relacionada, no fundo, com a coragem dos mais velhos em enfrentar com regularidade, por gosto e tradição, o mar açoriano. “Uma parceria entre a Câmara Municipal da Horta e o Festival Maravilha, permitiu instalar na Praia do Almoxarife uma obra que presta homenagem a todos aqueles que, por já terem uma certa idade, são loucos o suficiente para darem um mergulho no mar todas as manhãs e se manterem em forma e focados”, explica o Município da Horta, também numa publicação.
Superlinox, o artista mistério
Tudo começou com a instalação de uma máquina de lavar roupa cor-de-rosa no telhado de um prédio abandonado perto da autoestrada, em Setúbal, no final de setembro de 2020. O aparecimento repentino do eletrodoméstico colorido despertou a curiosidade de muitos e começaram a ser partilhadas imagens e mensagens de espanto nas redes sociais. O mistério ficou (quase) resolvido quando o artista, Superlinox, criou a sua página no Instagram.
Revelado o nome artístico, todas as outras informações pessoais são mantidas em segredo. Até ao momento, sabemos que nasceu em Setúbal e cresceu no universo do graffiti e da arte urbana. Tirou o curso de Artes na Escola Secundária Dom Manuel Martins e continuou os estudos na licenciatura em Belas Artes, na vertente de Escultura, na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa.
Quando começou a pensar no projeto, soube desde o início que não poderia assinar as obras com o nome verdadeiro, mas sim com um pseudónimo que conseguisse expressar a sua identidade enquanto artista anónimo. “Costumava jogar consola online com um amigo e fazíamos imensas noitadas. A certa altura, não sei muito bem porquê, ele começou a chamar-me Linox. Achei que era demasiado abstrato e, por isso, juntei-lhe uma carga conceptual porque na verdade quero ser um super artista”, revela.
As primeiras obras foram instaladas na cidade onde nasceu, como a estátua do Joel nas letras junto à rotunda do Centro Comercial Alegro Setúbal ou o Ricardo na Escola Secundária Dom Manuel Martins. Um estendal azul com roupa estendida, uma cama no meio da Praça do Bocage e uma menina cor-de-rosa em cima do canhão da Sétima Bataria do Outão foram outros dos objetos coloridos que não passaram despercebidos na cidade.
Recorde a entrevista que a NiS fez ao artista, numa retrospetiva dos últimos anos. Carregue na galeria para conhecer algumas das obras mais famosas do Superlinox.