As temperaturas médias estão a subir, os glaciares a derreter e o mundo, daqui a uns anos, pode já não ser exatamente como o conhecemos. Já todos ouvimos falar do impacto das alterações climáticas nos ecossistemas do planeta e agora também sabemos que podem ter muito impacto na saúde.
As ondas de calor e as inundações agravaram mais de metade das centenas de doenças infeciosas conhecidas nos humanos, como a malária e a cólera, conclui um estudo publicado esta terça-feira, 9 de agosto, na revista “Nature Climate Change”.
Os investigadores relacionaram o historial clínico de um grupo de pacientes e determinadas patologias e descobriram que 218 das 375 doenças infeciosas humanas conhecidas — o que equivale a 58 por cento — pareciam ser agravadas pelas condições climatéricas extremas.
A subida de temperatura dos oceanos e as ondas de calor tiveram efeitos significativos nos mariscos e outros alimentos provenientes dos mares, enquanto as secas aumentaram os riscos de infeções virais em humanos transmitidas por animais. Em alguns casos, as chuvas torrenciais e as inundações acabaram espoletar zoonoses transmitidas por mosquitos, ratos e outras espécies.
A comunidade científica já associa o clima a algumas patologias há muito tempo, uma associação que se intensificou-se com o coronavírus. A Covid-19 poderá ter tido origem num vírus que poderá ter sido transmitido através de um morcego ou um outro animal ainda não identificado.
“Os resultados deste estudo são aterradores e ilustram bem as enormes consequências das alterações climáticas nos agentes patogénicos humanos”, disse Carlos del Rio, um especialista em doenças infeciosas da Universidade de Emory, mas que não participou no estudo, aqui citado pelo jornal “Expresso”.
“Os especialistas que se dedicam à investigação de doenças infeciosas e à microbiologia têm de definir as alterações climáticas como uma das suas prioridades. E precisamos de trabalhar todos juntos para evitar o que será, sem dúvida, uma catástrofe”, sublinhou.
Para além de analisarem as patologias infeciosas, os investigadores expandiram a pesquisa à análise de outro tipo de doenças, como as comuns alergias, asma e mesmo mordeduras de animais, para verem quantas poderiam estar de alguma forma ligadas às alterações climáticas. No total encontraram 286 patologias específicas, das quais 223 pareciam ser agravadas, nove foram diminuídas pelos riscos climáticos e 54 em que se verificaram ambos os cenários.
O autor principal do estudo, Camilo Mora, um analista de dados climáticos da Universidade do Havai, explicou que o que é importante notar que a investigação não tem a ver com a previsão de casos futuros. “Não há aqui qualquer especulação”, referiu Mora. “Estas coisas já aconteceram”, acrescentou.
No entanto, a especialista de longa data em clima e saúde pública Kristie Ebi, da Universidade de Washington, advertiu estar preocupada com a forma como as conclusões foram tiradas e com alguns dos métodos usados no estudo.
“É um facto estabelecido que a queima de carvão, petróleo e gás natural levou a condições meteorológicas extremas mais frequentes e intensas, e a investigação demonstrou que os padrões meteorológicos estão associados a muitas questões de saúde, explicou. “Contudo, a correlação não é a causa”, afirmou a especialista. “Os autores não discutiram até que ponto os riscos climáticos analisados mudaram durante o período de tempo do estudo e até que ponto quaisquer alterações foram atribuídas às alterações climáticas”, rematou.