Ao longo de vários anos, desvalorizada por uns, valorizada por outros, a música tem o poder de nos aproximar, inquietar, arrepiar, relaxar e, arrisco, reabilitar e/ou transformar. Não conheço ninguém, até mesmo os que “parecem” mais inflexíveis, que não se deixem levar pelo som do ritmo e da melodia, seja rock, pop, rap, ou música tradicional.
A música é importante de diferentes formas em diversas etapas, é uma estrutura cognitiva complexa que incorpora som, com ritmos e melodias, que provocam atividade neuronal, modulando a estrutura biológica desde a fase embrionária até à fase adulta, com grande influência no envelhecimento.
A utilização da música em várias atividades do dia a dia, seja no meio profissional, académico, pessoal, tem sido alvo de exploração/investigação do ponto de vista científico há vários anos. Por exemplo, existem projetos por todo o mundo que investigam a influencia da música em contexto escolar.
O desenvolvimento de grupos de canto, coro ou orquestras com crianças e jovens provenientes de meios sociais problemáticos que, com a música, se ajustam à vida com maior entusiasmo. Com estes exemplos podemos compreender a multiplicidade de fatores envolvidos desde a motivação, a memória, a relação entre pares e a estimulação dos processos cognitivos.
Na adolescência, a busca da novidade, o envolvimento social, o aumento da intensidade das emoções e a exploração criativa impulsionam, ainda mais, os aspetos anteriormente referidos. Na fase adulta, mesmo com as inibições e “ajustamentos sociais” próprios a que a (socie)idade” obriga, mesmo aqueles que num concerto apenas batem intensivamente o pé ao ritmo da música, movem-se por dentro como crianças que aproveitam pela milésima vez a sua música favorita.
Quando entra no ouvido, o som, tal como o entendemos, ainda não é um som, mas sim ar que vibra. Esta onda de vibração entra no ouvido médio a 1217 quilómetros pro hora — é mais veloz que um avião. Aí, pequenas células, afinadas para captar diferentes frequências de som, transformam a vibração em sinais elétricos que são enviados para o córtex auditivo.
No sistema auditivo, o cérebro traduz então o estímulo elétrico num som (música, ruido, voz). Também nos diz se é um som alto ou baixo, se é agudo ou grave e de que lado vem. O cérebro tem também a capacidade de separar os sons, de acordo com as duas componentes (tom e frequência) para que possamos distinguir as vozes entre ruídos ou quando se misturam com melodias. Temos também um sistema de volume próprio que nos leva a falar instintivamente mais alto quando estamos num local muito ruidoso, ou mais baixo, quando nos encontramos num local silencioso.
Chegado ao cérebro, o som impacta nas nossas emoções, o sistema límbico é ativado regulando as nossas emoções, pedindo apoio ao hipocampo (área associada à memória e à emoção) e à amígdala (que desempenha um papel fundamental nas respostas emocionais) libertando a dopamina, um neurotransmissor associado ao prazer e à recompensa.
O efeito emocional da música
A música pode ter efeitos emocionais profundos em nós, ajudando-nos a expressar emoções que não conseguimos colocar em palavras, proporciona também segurança e consolo em momentos difíceis. Pode também estar associada a lembranças, ao despertar de memórias vividas e emoções relacionadas a eventos passados.
Há músicas antigas e familiares, onde as pessoas conseguem lembrar-se e cantarolar temas que ouviram repetidamente ao longo da vida. Músicas populares, canções folclóricas ou hinos que eram parte integrante das suas experiências passadas. Depois, temos as músicas associadas a eventos significativos. Estas estão fortemente ligadas a eventos emocionalmente significativos, como casamentos, festas de aniversário ou académicas ou outras ocasiões especiais.
Não nos podemos esquecer das músicas associadas à infância e adolescência. As memórias musicais relacionadas com a juventude são especialmente resistentes, isto ocorre porque as experiências musicais e as conexões ou sensações emocionais sentidas e/ou adquiridas nos anos de maior suscetibilidade de aquisição de conhecimentos tendem a ser mais duradouras na memória.
Há ainda as músicas relacionadas com atividades motoras, que estão associadas a atividades motoras e coreografias, como danças tradicionais ou músicas infantis com ações físicas, são memorizadas, relembradas e executadas com maior facilidade.
Tomei a liberdade de pedir a colaboração neste artigo de dois profissionais que dia a dia utilizam a música como meio expressivo: “A música é uma arte que faz parte do nosso dia, desde que acordamos até que vamos dormir. Há cada vez mais provas que ao fazer parte da nossa vida desde tenra idade nos ajuda na concentração, no desenvolvimento da memória, na aquisição de palavras, no raciocínio logico, na interação, entre muitos outros benefícios”, são as palavras de Rui Silva, Professor de Música na Academia de Música e Belas Artes Luísa Todi.
“Acima de tudo, o que a música me dá é espaço. Espaço mental e emocional para contestar, propor, ser alegre e ser triste. É um espaço de convulsão e de cura, porque enquanto ouço música ou componho converso comigo, afasto-me, encontro-me. É paradoxal, mas no fim de contas fica-me uma íntima sensação de bem-estar. É como arrumar a casa. Por dentro e por fora”, disse Cátia Oliveira, A Garota Não.
A música e o cérebro possuem uma relação complexa e bastante poderosa. A música afeta-nos emocionalmente, melhora a nossa cognição e desempenho mental, e até tem efeitos terapêuticos (Musicoterapia, SoundHealing). É uma forma de arte que conecta e influencia o nosso cérebro de forma profundamente fascinante. Em Setúbal, podemos encontrar na comunidade vários projetos, como Vozes da União — Coro da União Setubalense, Danças Europeias com Leónia Oliveira, Capricho Setubalense, Coro Setúbal Voz — Setúbal e ainda Coral Luísa Todi — Setúbal.
Pode marcar uma consulta, desta ou de outra especialidade, no site da clínica setubalense Mentes INquietas, através dos contactos 265 233 066, 927 401 218, ou enviar email para geral@nullmentesinqueitas.pt.