No século passado, já era comum namorar à distância. E não estamos a falar de ausência física, em que cada um estava num sítio diferente. Não existiam beijos nem abraços, nem qualquer outra demonstração de afeto. As mulheres eram cortejadas em casa dos pais, com vigilância e autorização. Se quisessem momentos sozinhos, tinha de ser às escondidas.
Esta é a realidade de outros tempos. E, como sabemos, eram os homens (e ainda são, na maioria das vezes) que davam o primeiro passo. A parte curiosa é que no novo single da jovem setubalense Mafalda Louro, lançado no dia 14 de abril, o papel foi invertido e nasceu uma nova (e curiosa) visão sobre o amor intemporal.
Os protagonistas desta aventura são Fernando Louro — que é avô de Mafalda —, 91 anos, e Clotilde Sousa, conhecida como Dona Lola, 80. “Iniciei a composição desta música refletindo sobre o início das relações, onde é tradicional o rapaz cortejar a rapariga. Contudo, depois questionei-me: ‘Por que não inverter esse padrão? Por que não ser a rapariga a dar o primeiro passo?”, revela Mafalda, 24 anos, à NiS.
É que a premissa de “Vou em Frente” é inesperada e surpreendente, já que, ao longo do videoclipe, vemos que é a Dona Lola que tenta, e acabar por ser ela, a ir ao encontro de Fernando. “Achei interessante explorar o tema intemporal do amor sob a perspetiva feminina, especialmente considerando que todos nós enfrentamos sentimentos de vergonha e insegurança ao conhecer alguém”, explica.
O videoclipe foi gravado em alguns locais de Setúbal. “Pretendia que fosse uma produção descontraída, capaz de retratar um pouco do típico café português. Acabei por convidar amigos e família para participarem, incluindo o meu avô e a Dona Lola, que deram um toque especial à narrativa do vídeo. Os dias de gravação foram extremamente divertidos, não apenas para mim, mas para todos os envolvidos, pois estávamos quase como em família”, diz.
O restaurante Improvisos do Mar foi o cenário principal e até a proprietária, que também é amiga da família, fez parte do projeto. Há também imagens na Praça do Brasil, Fonte Nova e também no Parque Tejo, em Lisboa, “ampliando a variedade de cenários e atmosferas retratadas”.
Associada a este trabalho está uma ideia que pretende desmistificar uma tradição que atravessou gerações. “Quero transmitir uma mensagem de coragem e quebra de estereótipos de género. Nela, a mulher está pronta para dar o primeiro passo, desafiando convenções que, em algumas culturas ou tradições, podem ser menos comuns. Ao dar vida e imagem com o videoclipe, ampliei ainda mais o seu significado, quebrando normas do passado, ao escolher dois protagonistas de idade avançada, demonstrando que o amor, por vezes, não escolhe idades, nem a hora”, explica.
Este foi o primeiro single de Mafalda, que está satisfeita com a conquista. “Estou muito feliz por ter lançado o meu primeiro single, acho que é um marco emocionante na jornada de qualquer artista que está a dar os primeiros passos no mundo da música. É um momento repleto de emoções mistas, uma combinação de entusiasmo e nervosismo”, conclui.
Mafalda sempre gostou de música. Com o apoio dos pais, começou a ter aulas de Formação Musical e a aprender violino, quando ainda era miúda. Mais tarde, durante as aulas de coro, descobriu o gosto pelo canto. Acabou por não dar continuidade ao violino e iniciou as aulas de canto lírico. Já no ensino secundário, seguiu a área de Línguas e Humanidades, ao mesmo tempo que continuava os estudos de música no Conservatório Regional de Setúbal.
Aprendeu a tocar piano e guitarra para poder usá-los como instrumentos de acompanhamento. Quando acabou o liceu, foi estudar para Inglaterra, onde se licenciou em Teatro Musical, mas devido à pandemia, concluiu os estudos em Portugal. Depois de regressar, começou a escrever letras e a compor originais.
Também ficou conhecida por cantar ocasionalmente, desde 2019, na Praça de Bocage. Mafalda está a trabalhar no próximo single e na organização de um concerto em nome próprio, onde vai apresentar as músicas originais. O espetáculo está programado para o final de junho, na Casa da Baía. Recorde ainda a entrevista completa que fizemos à artista, para conhecer mais acerca do seu percurso.
