cultura

“O Jogo da Viúva” é um dos filmes mais vistos da Netflix em 2025 — com uma história real

Dois dias após a estreia, a 30 de maio, já tinha acumulado 31,4 milhões de horas de visualização e 15,4 milhões de espectadores.

Na manhã de 16 de agosto de 2017, Antonio Navarro Cerdán, um engenheiro industrial de 36 anos, saiu de casa para ir trabalhar em Valência, Espanha. Vivia no bairro de Patraix com a mulher, María Jesús Moreno Cantó — conhecida como Maje entre os amigos. O marido, porém, nunca chegou a ligar o carro: foi apanhado de surpresa na garagem do prédio por um homem que se escondia entre os veículos, foi esfaqueado no peito e morreu no local.

Desde o início, a polícia descartou o roubo como motivação — nada tinha sido levado. O caso rapidamente tomou um rumo sombrio, revelando um plano macabro onde a viúva estava no centro. Esta história real de traição, manipulação e homicídio inspirou “O Jogo da Viúva”, que já é um dos filmes mais vistos do ano na Netflix.

Protagonizado por Carmen Machi, Ivana Baquero, Tristán Ulloa e Pablo Molinero, a obra estreou a 30 de maio e, dois dias depois, já tinha acumulado 31,4 milhões de horas de visualização e 15,4 milhões de espectadores. Nem “Fear Street: Prom Queen”, um filme falado em inglês que estreou na mesma altura, conseguiu juntar tantos utilizadores.

A produção foi inspirada num caso real. Na altura do assassinato do marido, María Jesús Moreno Cantó tinha 27 anos e era descrita como meiga, vaidosa e carismática.

Enfermeira num hospital da cidade, apareceu nos meios de comunicação como uma jovem viúva devastada por uma tragédia sem sentido. Expressou, publicamente, estar incrédula pela brutalidade do crime, mas os investigadores ficaram intrigados com a sua postura calma e calculista durante os primeiros interrogatórios. Vários relatórios indicaram que as suas reações emocionais não condiziam com as de alguém em luto.

A investigação centrou-se no círculo próximo da vítima e revelou que Maje levava uma vida dupla. Apesar de aparentar ser uma mulher dedicada, mantinha várias relações extraconjugais. Uma delas, com Salvador Rodrigo Lapiedra, um funcionário de limpeza do hospital onde trabalhava, tornou-se essencial no caso.

O homem estava profundamente apaixonado pela jovem que lhe alimentava os sentimentos com promessas de um futuro em comum e histórias alegadas de maus-tratos na relação atual. Escutas telefónicas revelaram conversas comprometedoras entre os dois, deixando claro que tinham planeado o assassinato de Antonio com antecedência.

 

Após poucos dias de investigação, descobriu-se que Maje convenceu o amante a cometer o homicídio. O auxiliar escondeu-se na garagem do prédio em Valência com uma faca de cozinha. Quando Antonio desceu, atacou-o e matou-o. A mulher tinha-lhe dito a que horas é que o marido costumava sair, quais os percursos que fazia e até lhe entregou as chaves da garagem.

O crime havia sido minuciosamente planeado: a arma foi descartada numa fossa séptica na propriedade de Salvador e só viria a ser recuperada meses depois, com a sua colaboração, após a confissão.

O casal foi detido em janeiro de 2018 e, inicialmente, o homem ainda tentou proteger a viúva, mas mudou a sua versão ao descobrir que ela se tinha envolvido romanticamente com outra pessoa enquanto estavam detidos. Numa nova declaração, admitiu ter sido responsável pelo assassinato, mas com o total apoio e incentivo de Maje.

“Na minha declaração anterior, disse que tudo tinha sido ideia minha. Mas foi de ambos”, disse numa gravação real da audiência que é revelada no final do filme da Netflix.

Segundo o que explicou, a mulher tinha-se apresentado como vítima de abuso psicológico e físico e disse que, se o marido morresse, ficaria livre sem ter de passar por um divórcio — o que a deixaria sem pensão ou herança.

Até hoje, María Jesús Moreno Cantó nega qualquer envolvimento na morte do marido. No entanto, o tribunal considerou que havia provas esmagadores, incluindo mensagens de texto, chamadas telefónicas e testemunhos, que desmentiam a sua versão e apontavam para um crime planeado a dois.

Em outubro de 2020, foi condenada a 22 anos de prisão por homicídio, com a agravante de laço familiar. O amante, por sua vez, foi condenado a 17 anos, com redução por ter colaborado com a investigação. Ambos foram ainda condenados a pagar 250.000€ à família de Antonio.

Carregue na galeria para conhecer alguns dos filmes que estreiam em junho nas plataformas de streaming.

ver galeria

MAIS HISTÓRIAS DE SETÚBAL

AGENDA