“As opiniões são como os olhos do cu, todos temos um.” Concordo com o Lucas e acho que já era o momento de estas crónicas começarem com uma citação de elevado gabarito intelectual. Ainda não foi hoje esse momento, mas o importante a reter é que “Hell’s Kitchen”, transmitido este domingo, 11 de abril, pela SIC, continua a oferecer boas pérolas de sabedoria brejeira como esta.
Depois de, na semana passada, o chef Ljubomir ter sido brindado com um pequeno-almoço de campeões pela equipa vermelha e um pequeno-almoço “de merda”, como o próprio apelidou, pela equipa azul, chegou a altura de se vingar. Embora a vingança se sirva fria, Ljubomir preparou para o pequeno-almoço dos homens um “smoothie do inferno”.
Não sei o que é que o chef lá colocou dentro, mas dá-me ideia que mandou vir aquela gosma verde que a rapariga do filme “O Exorcista” vomita quando está possuída. Acho que a intenção de Ljubomir era mesmo ver quem vomitava primeiro, mas não funcionou, porque os rapazes conseguiram aguentar-se. Da próxima vez basta o chef passar imagens da sentença do juiz Ivo Rosa e do Sócrates a sair do tribunal que eu quero ver quem é que se aguenta sem bolsar.
Como no último episódio não tinha sido expulso ninguém, esta semana os concorrentes foram confrontados com um desafio que levaria a uma expulsão. Orelha, pezinhos, mioleira, fígado, foram algumas das iguarias que Ljubo escolheu para os seus pupilos cozinharem.
“Tu és uma pessoa que já lixou bastante o teu fígado, por isso este é um prato perfeito para ti”, explica o chef para Diogo, que tem um passado de abuso de drogas. Pareceu-me um critério um pouco forçado. Era o mesmo que dizer ao Ronaldo: “CR7, este prato é perfeito para ti: vais cozinhar pipis porque já lixaste muitos”.
Mas apesar de serem alimentos apelidados de comida pobre, Ljubomir pede aos participantes que os transformem em refeições de fine dining. Dona Ana estranhou um pouco a expressão, “Essa do fandaiguingue é que não percebi bem. É comida xpto, não é isso?” É isso mesmo, Dona Ana, ou, como diria um amigo meu, comida armada ao pingarelho. Só que dito em inglês eles acham que fica logo a parecer mais sofisticada, e portanto podem pedir 50 euros por uma folha de alface com dois mirtilos por cima e um desenho na borda do prato feito em vinagre balsâmico, como se fosse um quadro do Cargaleiro.
Desta vez o chef quis escolher os piores pratos, “os três pratos são tão maus, tão maus que um de vocês vai-se embora hoje”. O sacrificado acabou por ser António Pedro, que basicamente fez uma torrada com um pouco de pézinhos. Mas o grande erro do Tó Pê foi não ter experimentado o prato por não gostar. Eu percebo o rapaz, eu próprio não comeria pézinhos, até porque acho estúpido chamarem pézinhos a uma patorra de um bicho daqueles. Pézinho tinha a Cinderela: aquilo é um naco de carne e unhaca de fazer inveja a qualquer taxista.
Quem não faz cerimónias na hora de comer é Francisca, que as colegas já apelidam carinhosamente de “aspirador”. A concorrente gosta de provar tudo o que lhe aparece à frente, principalmente quando se trata de receitas novas no menu. “Come aí, aspirador”, diz Rute para Francisca, que está a deliciar-se com o carré de borrego e o salmonete, que são as novidades do menu. Mas Francisca não é só expedita a comer, também o é a cozinhar. E na hora de arranjar o filete de salmonete, a concorrente mostra que é uma das fortes candidatas a vencer este programa.
“O filete da Francisca está lindo”, comenta Ljubomir maravilhado. “Parabéns, ganhaste este desafio.” Ou seja, a equipa dos homens perde pela enésima vez e para castigo vai aprender a amanhar salmonetes. Tentando puxar pelos rapazes, Ljubomir preparou uma técnica que em culinária se chama de travestismo. O chef colocou duas garrafas por baixo da jaleca a fingir de mamocas e foi roçar-se no Rafael para ver se ele ficava mais animado.
O concorrente não lhe ligou muito, o que não é de estranhar, porque Ljubomir é um ótimo chef mas como Guida Scarllaty deixa muito a desejar. Quem também deixou muito a desejar foi Cândida, nomeada como líder, mas cuja prestação no último serviço foi um desastre. As colegas acusam-na de não registar os pedidos, não cozinhar bem a carne e de não comunicar. Sentados nas mesas VIP, os convidados do chef assistem ao caos na primeira fila.
Ao ouvir Ljubomir aos berros com as senhoras, a atriz Sara Matos fica em pré-ataque de pânico. Não é para menos, o chef está a armar o maior barraco por causa da concorrente brasileira: “se ela não consegue estar na cozinha, tirem-na da cozinha, foda-se!” Na outra mesa VIP, Ricardo Pereira desabafa: “Jesus, isto é muita pressão para a minha cabeça”. Não sei se Ricardo estava a evocar Jesus Cristo ou o seu amigo Diogo “Hot Jesus” Morgado, mas dá-me a sensação de que naquele momento nenhum dos dois arriscaria chegar-se ao pé de Ljubomir.
No final, o chef decidiu mandar para casa Rafael, e desejou poder encontrá-lo daqui a uns anos como um grande chef. Rafael emocionou-se e chorou. Provavelmente porque imaginou Ljubomir a aparecer com as suas mamas falsas e isso traumatiza qualquer um.