Embora tenham batizado o projeto com o nome “estranho”, a verdade é que João Miguel Mota e Pedro Franco são já bastante conhecidos entre o público. Os artistas setubalenses têm conquistado os espectadores ao longo dos anos, graças ao trabalho desenvolvido desde 2009. Desde essa altura que continuam a inovar, com ritmos e melodias diferentes. A prova disso é o mais recente trabalho de originais em formato instrumental.
Um Corpo Estranho apresenta, assim, “O Ferroviário”, um disco que resulta da colaboração do duo setubalense com o festival Film Fest, para o qual foram convidados, em 2022, a criar a banda sonora musicada ao vivo para o filme “The Railroader”, de Buster Keaton.
“A vontade de criar um disco da experiência perdurou resultando numa viagem instrumental de 16 temas, estações que se vão seguindo e contando as várias peripécias vivenciadas numa grande viagem onírica”, explica a editora do projeto, Malafamado Records.
A relação de João Miguel Mota — que tem também o projeto a solo Et Toi Michel — e Pedro Franco, com a área do cinema e do teatro já não é novidade. Um Corpo Estranho criou e editou vários trabalhos, como “A Velha Ampulheta” e “Homem Delírio”, do criador Ricardo Mondim, “O Homem Almofada” (baseado no universo de Paula Rego) de Sylvan Peker ou, mais recentemente, “Quis saber quem sou”, a última curta-metragem do realizador António Aleixo com o tema “O Puto e o Velho”.
O single de estreia de “O Ferroviário” tem o mesmo nome e conta com vídeo produzido pela GARAGEM e realizado por Pedro Estêvão Semedo, com direção de fotografia de Mário Guilherme. A produção do disco esteve a cargo de Sérgio Mendes e da própria dupla.
Pedro e João tocam juntos desde os 16 anos e a música sempre fez parte do seu imaginário. “Tivemos algumas bandas de garagem num estilo mais acústico e de folk e costumávamos ir para a praia da Figueirinha tocar guitarra”, contou em entrevista à New in Setúbal, Pedro Franco.
Estiveram vários anos sem terem contacto, mas reencontraram-se no Teatro da Trindade quando Pedro estava a fazer a banda sonora e a sonoplastia de um espetáculo produzido por uma companhia de Santa Iria da Azoia. “Ele foi ver a minha peça e disse-me que tinha umas canções e que gostava de criar um projeto”, explicou João Mota.
Como Pedro era guitarrista dos Hands on Approach, sentiu que queria começar um caminho próprio baseado em originais e ao lado de alguém com quem já tinha uma ligação de cumplicidade. Ambos escrevem as letras das canções d’Um Corpo Estranho, que interpretam em português. O processo de criação passa por experiências da vida pessoal desconstruídas para o universo da banda.
O projeto musical nasceu em 2009 e o primeiro EP, composto por cinco temas e editado pela associação juvenil Experimentáculo, surgiu em 2012. Seguiram-se depois o disco de estreia “De não ter tempo” (2014) e “Pulso” (2016). Entre os períodos de pausa, os amigos compuseram peças para teatro físico, como “A Almofada da Paula”, baseada na obra da pintora Paulo Rego, “A Velha Ampulheta” e “Qarib”, sendo que estes dois últimos são criações do encenador e produtor Ricardo Mondim.
Pedro e João justificam a escolha do nome Um Corpo Estranho por ser um território que não sobrevive apenas com um dos dois, sendo que o resultado nasce desse cruzamento. “Ao ser um projeto bicéfalo pensado por duas cabeças torna-se um corpo estranho para ambos”, conclui João.