Nos anos 90 e no início dos anos 2000, Brendan Fraser era uma estrela em Hollywood. Foi o protagonista dos filmes de “A Múmia”, “George – O Rei da Selva” e participou em produções como “Colisão”. Depois, desapareceu. Não é que tenha deixado de trabalhar, mas começou a fazer parte de menos projetos — e sobretudo filmes e séries com menor relevância e mediatismo.
Nos últimos 15 anos, muitos fãs se questionaram sobre o que teria acontecido ao ator americano. Parte da resposta chegou num longo artigo da revista “GQ” publicado em 2018. Em plena era do movimento #MeToo, Brendan Fraser revelou que foi assediado em 2003 por um executivo da indústria e que o incidente foi traumático.
“A mão esquerda dele veio por trás, agarrou a minha nádega, colocou um dos dedos entre o ânus e os genitais. E começou a mexer”, contou o ator sobre como foi assediado por Philip Berk, que na altura era o presidente da Hollywood Foreign Press Association (HFPA), a entidade que organiza os Globos de Ouro. Fraser sentiu medo e pânico, até eventualmente conseguir afastar a mão de Berk do corpo.
“Senti-me doente. Senti-me como um miúdo. Era como se estivesse algo a entupir-me a garganta. Pensei que ia chorar. Parecia que me tinham atirado tinta invisível para cima.” Assim que chegou a casa, contou o que acontecera à mulher, mas nunca falou publicamente sobre o assunto até 2018. “Não queria lidar com o que aquilo me fez sentir.”
Ainda assim, reportou o que tinha acontecido à HFPA, através dos seus agentes, que exigiram um pedido de desculpas por escrito. Philip Berk escreveu uma carta, admitindo que tinha tocado em Fraser, mas que tinha sido por piada, sem qualquer intenção sexual, e que não tinha feito nada de mal. Segundo o ator, a HFPA também se comprometeu a nunca deixar que Berk e o ator pudessem estar sozinhos numa sala.
“Fiquei deprimido.” Dizia a si próprio que merecia o que tinha acontecido. “Estava a culpar-me e sentia-me infeliz.” A experiência fê-lo “retrair-se” e sentir-se “solitário”. Depois de 2003, raramente foi convidado para participar nos Globos de Ouro. E tornou-se um nome, lá está, cada vez menos requisitado em Hollywood. Philip Berk continuou a ser um membro destacado da HFPA — e o comportamento da entidade tem sido tão criticado que este ano a gala não contou com figuras públicas nem foi transmitida na televisão.
Noutra entrevista à “SiriusFM”, em 2019, foi questionado sobre se sentia que tinha sido colocado na lista negra de Hollywood depois de ter reportado o caso de assédio. “Não sei se usaria é o termo para o descrever, mas sei que existe uma altura na carreira de toda a gente em que o telefone deixa de tocar.”
No mesmo artigo da “GQ”, Brendan Fraser apontava outro problema com o qual teve de lidar ao longo dos anos que se seguiram. Por causa dos filmes de ação e das exigentes manobras físicas que tinha de fazer, o seu organismo começou a acusar a carga de trabalho. Uma série de lesões acabaram por levar o ator a ser submetido a múltiplas cirurgias.
“Precisei de fazer uma laminectomia. A lombar não aguentou, por isso tiveram de o voltar a fazer um ano depois.” Além disso, teve de substituir parte do joelho, precisou de fazer outras intervenções nas costas e até nas cordas vocais. Ao todo, passou sete anos a entrar e a sair de hospitais. “Senti-me como o cavalo de ‘A Quinta dos Animais’, cujo papel era trabalhar, trabalhar e trabalhar. Trabalhava pelo bem de todos, não fazia perguntas, não causou problemas até que aquilo o matou…”
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Nos últimos anos, criaram-se várias comunidades online de fãs de Brendan Fraser, que apelavam ao “Brenaissance” — ou seja, ao renascimento da sua carreira. É impossível determinar o quão relevante foi o papel dos fãs, mas a verdade é que é exatamente o que tem acontecido ao ator, que hoje tem 53 anos.
Primeiro, foi confirmado como o ator protagonista de “The Whale”, o próximo filme do realizador Darren Aronofsky (o cineasta responsável por “A Vida não é um Sonho”, “Cisne Negro” ou “O Wrestler”).
Vai interpretar um homem com 272 quilos. Será um reservado professor de inglês que está a lidar com a sua grave obesidade enquanto tenta voltar a ligar-se emocionalmente à filha adolescente. É a sua última hipótese para a redenção que tanto procura. O professor abandonou a família para estar com o seu amante gay. Depois de este morrer, o desgosto levou-o a comer de forma compulsiva até atingir o peso descomunal.
Depois, fez um papel relevante em “No Sudden Move”, filme de Steven Soderbergh (que ainda não estreou em Portugal) com atores como Don Cheadle, Benicio Del Toro, Kieran Culkin, David Harbour e Jon Hamm.
Além disso, também foi confirmado no filme de “Batgirl”, onde deverá interpretar o vilão da história, ao lado de Leslie Grace, Michael Keaton e J.K. Simmons. E vai juntar-se a Josh Brolin, Peter Dinklage e Glenn Close para participar na comédia “Brothers”.
Contudo, o principal destaque foi mesmo o anúncio da sua participação em “Killers of the Flower Moon”, o próximo filme de Martin Scorsese, onde vai contracenar com Leonardo DiCaprio, Robert De Niro e Jesse Plemons, entre outros.
Foi a falar com uma fã numa rede social, e ao mencionar este projeto, que este lhe explicou como havia tanta gente a torcer por ele online. Brendan Fraser não conseguiu conter as lágrimas e simplesmente agradeceu pelo apoio. O “Brenaissance” é real e está mesmo a acontecer. E o músico Nick Lutsko até fez uma música chamada “Brendan Fraser is Back” para celebrar este momento.