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De Setúbal para o mundo: cantora Diana Lima lança primeiro EP

A NiS esteve à conversa com a artista para conhecer o novo trabalho, “Beco Com Saída”, e perceber quais os projetos para o futuro.
A artista vai ter concertos de apresentação.

Cinco milhões de visualizações, um local e uma miúda de 15 anos. Este foi o primeiro passo para o sucesso de Diana Lima, a cantora setubalense de 25 anos, que lançou em março o primeiro EP, “Beco Com Saída”. Escolheu o Parque Urbano de Albarquel (PUA) para falar com a NiS, justamente porque foi ali que gravou o primeiro videoclipe, há dez anos.

“Confiei em Ti” foi organizado pela artista e pelos amigos. Na altura, a letra e a melodia reconfortaram os corações partidos de muitas pessoas, já que a canção alcançou quase cinco milhões de visualizações no YouTube. Foi também no PUA que Diana deu o seu primeiro concerto, com Zlátan, em 2015. Apresentaram a música original “És Tudo para Mim”.

A artista cresceu, evoluiu, aprendeu e o talento e a dedicação continuaram presentes. Estes pequenos passos da cantora, mas também compositora e instrumentista, culminaram no EP, apresentado ao público com sete temas, disponíveis no Spotify e YouTube. Este ano, Diana vai dar os primeiros concertos de apresentação, a 11 de abril, no Teatro Aveirense, em Aveiro, e a 4 de maio, no Capitólio, em Lisboa.

A New in Setúbal entrevistou a artista e quis saber tudo acerca do seu percurso no mundo da música, até à criação do último trabalho, mas também da vida que teve na cidade do Sado.

Qual é a primeira memória que tem da música na sua vida?
Comecei a cantar com uma música do João Pedro Pais, a “Mentira”. Cantei em casa, depois dos meus pais a mostrarem. Comecei a cantar do nada. A minha mãe é que me contou, porque não me lembro. Tinha uns cinco anos.

E como é que alimentou essa paixão pela música a partir daí?
Os meus brinquedos eram instrumentos. Já nasci com este amor pela música. Acho que desde que nascemos, já sabemos. Aos 12 anos, ia para a escola e levava a guitarra, que foi o primeiro instrumento que tive, e tocava com as minhas amigas. Todos os instrumentos que toco, aprendi sozinha. Comecei a ver vídeos no YouTube. E entrei na tuna, acho que também ajudou.

Qual é a sua formação?
Acabei o ensino secundário em Setúbal, na Escola Secundária Sebastião da Gama, no curso de Línguas e Humanidades. Depois segui para a licenciatura em Jazz e Música Moderna, na Universidade Lusíada. Ainda estive em Gestão de Recursos Humanos, mas não quis continuar. É importante termos formação naquilo que realmente gostamos de fazer, porque depois vamos sempre aprofundando os conhecimentos. Acabei o curso em 2023 e estive na Restart a tirar Criação, Composição e Produção, em 2020.

Nunca desistiu da música, mesmo em adolescente.
Participei em alguns programas, como o “Factor X”, em 2013, quando tinha 16 anos, depois no “The Voice”, com 17 anos, e foi antes dessa participação que gravei o “Confiei em Ti”, o meu primeiro videoclipe “amador” no Parque Urbano de Albarquel, em 2015.

Foi por isso que escolheu este local para a entrevista?
Escolhi o PUA porque, para mim, é um lugar com muito significado quando falam em Setúbal. Foi onde começou o meu percurso. Depois de lançar aquela música e, de repente, ter quase cinco milhões de visualizações, sem ninguém a ajudar-me, só os meus amigos, tive a certeza que tinha de continuar. Acho que é importante por isso.

Nunca esperou tanto alcance, na altura.
Foi tudo numa brincadeira. Escrevi a música e foi um amigo meu que me incentivou a gravar o videoclipe. Só que eu na altura tinha muita vergonha de mostrar às pessoas o meu trabalho. Os meus amigos ajudaram-me bastante. Um ano depois, ou seja, em 2016, lancei outro single, o “Outro Alguém”.

Depois desse videoclipe, o que se seguiu?
O “Outro Alguém” também correu muito bem. Fui, como disse, ao “The Voice” e não virei nenhuma cadeira. Estava muito nervosa e fiquei triste na altura. Já tinha ido a alguns concursos e nunca tinha ficado. Depois passou. Entretanto, apareceu a Universal.

Em que medida é que a Universal a ajudou? O que criou com a empresa?
Foram eles que me ajudaram a consolidar a carreira que tenho hoje. Deram o boost que eu precisava. Nós fomos trabalhando singles. Este caminho percorrido com eles foi bom para eu descobrir a minha sonoridade. Ainda não tinha chegado lá. E este EP que lancei demonstra essa minha essência.

Em que é que se inspira para compor as músicas?
O tempo que demoro a escrever é sempre relativo. Algumas vezes, leva um mês, porque pego no primeiro verso, depois já não continuei no segundo, e deixei meio encostado. Por exemplo, com a música “Não Somos Iguais”, que está no EP, o processo foi simples. Tinha a melodia na cabeça, cheguei a casa, peguei na guitarra e a música toda saiu em dez minutos.

Sem ser preciso reescrever?
Ficou mesmo como escrevi naquele dia. Acho que foi a música que escrevi mais rápido.

E quando as coisas correm menos bem, o que se sente?
É muito frustrante. Como compositora, gosto de escrever quando me sinto inspirada. E até é mais quando estou triste, mas já aprendi que não pode ser só nesses momentos. Temos de saber agarrar a alegria, pegar nisso e fazer algo. E foi o que fiz neste EP também. Mas é frustrante até porque, não é que seja uma obrigação, mas como artistas, temos de ter músicas cá fora. As pessoas não podem esperar pela nossa inspiração.

Sente que é sempre uma artista ou, às vezes, é só a Diana?
Sou sempre os dois. É um bocado difícil separar, mas claro que tento em certos momentos. O que me inspira enquanto pessoa, também me inspira enquanto artista. Quando estou a compor, não posso só pensar no meu lado profissional. Acho que não vou ter inspiração.

As letras são inspiradas em quê?
São autobiográficas. Conto sempre histórias da minha vida. É a minha cura de corações partidos, na maioria das vezes.

O novo EP tem sete temas.

Houve alguma história que lhe partiu mais o coração e a inspirou mais?
Vou dizer qual é a música, mas sem revelar a história em si. A “Contar-te Uma História”, que também está no EP, é uma história que foi a mais, digamos, triste, deste trabalho, mas foi um género de cura para aquela situação. Quando estou triste, o meu alívio é escrever no papel. Sinto-me melhor porque deito tudo cá para fora. As pessoas falam com alguém, eu escrevo no meu caderninho.

E Setúbal, cura-a?
Quando preciso de minutos para respirar, venho para Setúbal. Estou a morar em Lisboa há cinco anos, mas esta cidade é um lar. O meu lar. Toda a minha família é de cá, morei aqui a vida toda e nem consigo escolher um sítio favorito. Mas gosto, claro, das praias e da Serra da Arrábida.

Tem muitas memórias?
Por exemplo, foi aqui também, no PUA, que dei o meu primeiro concerto. Foi um evento relacionado com a juventude. Lembro-me que fui lá cantar com o Zlátan, penso que também em 2015. Na altura, interpretei uma música que tinha lançado em parceria com ele, o “És Tudo para Mim”.

Falando agora da criação do EP, qual foi a primeira música que escreveu? E a última?
O EP “Beco Com Saída” tem sete músicas. Estão todas no Spotify e no YouTube, e duas delas — “Ponto Para Terminar” e “Não Somos Iguais” — já têm videoclipe. Neste trabalho, por acaso, foram todas escritas recentemente. Acho que o que nós escrevemos está muito relacionado com a fase da vida em que nos encontramos.

É isso que o público pode esperar deste trabalho?
Precisava de contar muitas histórias e este EP tem coisas muito engraçadas. Os nomes das músicas estão por ordem e contam mesmo uma história. Mas a mais antiga é a “Domingo de Manhã”, que escrevi em 2020 e estava no baú. As restantes foram escritas há uns cinco meses.

Esse prazo tão curto revela que se inspira mesmo na sua vida para escrever.
Muito mesmo. Não costumo falar muito disto, mas é bom para as pessoas se identificarem. Passei por um heart broken e foi uma coisa que me deixou em baixo, fiquei muito triste, e refugiei-me nas minhas músicas. Por isso é que acho que escrevi o EP tão rápido.

Se escrever e cantar é algo que a fez deitar para fora o que tem dentro de si, porquê o nome de “Beco Com Saída”?
Quando comecei a escrever o EP, estava triste. Se as pessoas forem ouvi-lo, ele não tem essa carga. Inicialmente, não queria fazer algo assim e acabou por ser diferente. Desde o início que disse que queria que fosse “Beco”, porque era aí que eu estava, num beco, mas acabou por ter saída porque as músicas não foram tristes. É como se as próprias músicas me tivessem ajudado a sair desse beco. Foram a minha cura.

Houve algum contratempo ao longo do processo de criação?
Há uma música, a “Rotina”, que foi mais difícil de fechar por causa do refrão. Tem uma melodia muito difícil e é sempre por aí que, normalmente, começo. Cheguei a pensar que não sabia mesmo o que é que ia fazer ali. Continuámos a trabalhar, mas acabei por pedir ao Murta para me ajudar e resultou.

Tem tido muito apoio no seu caminho na música?
Tenho muito a agradecer ao Stego, que me ajudou a fazer a produção deste EP, assim como o DMinor e D’ay, e aos músicos, o Rodrigo Correia, o Tiago Joaninho, o Side V, e o Mateus e o Tyoz. Não me posso esquecer do Murta, da Isabel Gonçalves e da Brenda, que me ajudaram a escrever as letras, e à Leonor Patrocínio, que apoia nos videoclipes. É muito importante termos uma equipa ao nosso lado para que tudo resulte.

Este trabalho apareceu numa fase boa da sua vida, então.
O EP surge numa nova jornada, em que comecei a trabalhar também numa nova agência, que é a Arruada. Estou a gostar muito. Tenho dois grandes amigos, além do público: a Universal e a Arruada.

Já há duas datas de apresentação do EP e os primeiros grandes concertos da sua vida. Como se sente?
Estou muito ansiosa. São os meus primeiros concertos em nome próprio. Mal posso esperar para que chegue esse dia, para estar com as pessoas e ouvi-las a cantarem as músicas novas e as antigas.

E quais são os seus projetos para o futuro?
Terminei o EP, pretendo lançar mais singles e um álbum, claro. Ambiciono cantar numa sala grande. Sinto que, ao longo do tempo, consegui conquistar o carinho de muitas pessoas e a cada dia há mais a aparecerem e a felicitar-me pelo meu trabalho. Sinto um carinho enorme todos os dias, até do público que me segue desde 2015.

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