O que parecia ser um leilão do primeiro guião da série, rapidamente se transformou num aparente assalto, quando as luzes se apagaram. Afinal, era apenas mais um truque de Berlim, a personagem de Pedro Alonso, que é o coração da nova série da Netflix.
O spin-off de “La Casa de Papel”, já foi anunciado há algum tempo, mas pouco mais se sabia para além do nome do protagonista. Esta quarta-feira, 28 de setembro, em conferência de imprensa, foram revelados os nomes que farão companhia a Andrés de Fonollosa.
Desde logo, pode esquecer grandes regressos de personagens da série espanhola que se transformou num dos maiores êxitos da plataforma. Contudo, Esther Martínez Lobato, parceira de escrita de Álex Pina, não abriu o jogo completamente. “De momento não podemos dizer nada sobre [reaparições de personagens conhecidas]. Até porque se depois não vier a acontecer, criaríamos uma falsa expectativa. Queremos que a série tenha a sua própria identidade.”
Berlim chegará acompanhado de um novo grupo de assaltantes, atores espanhóis que porventura serão pouco conhecidos do público português. Michelle Jenner é Keila, uma engenheira informática, perita em cibersegurança, mas pouco apta a criar ligações emocionais. Julio Peña é Roi, “o escudeiro de Berlim”, um jovem que confia plenamente no líder do grupo, depois de o ter salvado de um passado complicado.
Tristán Ulloa é Damián, o mais velho do grupo e também amigo íntimo de longa data de Berlim, que serve como seu grande conselheiro. Begoña Vargas é Cameron, uma “mulher enérgica” e uma “verdadeira montanha russa”. Por fim, Bruce, interpretado por Joel Sánchez, é o membro mais louco do gangue, que tem como lema de vida o carpe diem.
A antecipação da série foi feita numa fase em que não arrancaram as gravações, nem tão pouco o guião está completo. “Vamos começar agora a filmar e vamos escrevendo à medida que gravamos”, explica o criador, Álex Pina. “Isso dá-nos jogo de cintura para ir mudando as coisas (…) Claro que isso traz muita pressão, mas ela existe sempre.”
Para o criador de “La Casa de Papel”, apostar num spin-off deste género tem vantagens e desvantagens. “O lado bom é que haverá muita gente que quererá ver a série, por ter uma forte ligação com a série anterior. Mas pode ser mau, no sentido em que a deceção poderá também ser maior, se vierem apenas para reviver as sensações passadas.”
Embora o irmão do professor seja uma figura conhecida, os criadores da série sublinham que a produção terá um ambiente e um estilo distinto de “La Casa de Papel”. “Encontramos um Berlim mais lúdico, mais luminoso, mais cómico, mais romântico. Sem perder, claro, essa psicopatia que lhe é característica.”
Pina fala sobretudo em “criar um novo universo” com “a sua própria identidade”. “Já sabemos como é que terminou [a vida de Berlim]”, nota sobre a morte do ator em “La Casa de Papel”. “Contudo, ele continua a ser um assaltante profissional.”
Foi, em tempos, ponderada a possibilidade de fazer reviver Berlim para as últimas temporadas, mas a ideia acabou por ser colocada de parte, em prol de um potencial spin-off.
“Falou-se disso, mas eles acharam que fazê-lo seria rasgar um pacto de cavalheiros com o público”, explica o ator, Pedro Alonso. Sobre o regresso, diz-se “muito agradecido”, embora tenha hesitado no momento de o aceitar. “Lembro-me de ter dito que precisava de um dia para pensar, de estar em casa e ponderar a energia e o tempo que isso iria requerer.”
Álex Pina não teve dúvidas no momento de escolher Berlim para manter viva a saga. “É uma personagem a 360 graus, que é generosa ou egoísta, romântica ou cruel. Dá-nos muita liberdade na escrita porque não tem um rumo claro. Queríamos explorar esta personagem.”
Sobre o que se pode esperar de “Berlim”, os criadores asseguram que, além de explorar a vida romântica e agitada de Berlim e das suas cinco mulheres, o foco da série estará mesmo nos assaltos, que também seguirão o estilo que permeia a produção.
“Queríamos algo luminoso. Neste momento de contexto de guerra e crise económica à espreita, acreditamos que o nosso trabalho é o de entreter, é o entretenimento. E para isso queremos algo com luz, personagens luminosas, animadas. Optamos por trabalhar outro ângulo, mais romance e comédia”, nota Pina. “Queremos que seja um universo diferente, uma identidade e um ADN diferente [de ‘La Casa de Papel’].”
Prometem um Berlim “mais divertido” do que aquele atormentado por uma doença terminal. “Decidimos fugir um pouco à obscuridade e à violência, à angústia. Criámos roubos que têm mais a ver com ilusionismo. O Berlim é o David Copperfield dos assaltos.”
E sobre a estreia? “Será quando quiserem que seja”, remata Esther Martínez Lobato. “Vamos filmar primeiro.” Certo é que nunca chegará à Netflix antes de 2023.