Ângela Miranda Penedo, 38 anos, é uma artista setubalense cuja história já é conhecida. Começou a pintar desde miúda, mais tarde tirou o curso na escola Arte Ilimitada, em Lisboa, sendo que o seu passaporte já foi carimbado umas quantas vezes ao longo da vida. Viveu em Barcelona, Grécia e Budapeste, e uns períodos, na América Latina e Arábia Saudita. Atualmente vive em Setúbal e desde dezembro de 2020 que tem um estúdio na cidade, local onde nascem as suas obras.
Em março desse ano lançou a coleção Imaginarium, que conta com 17 quadros. Para fechar a coleção com chave de ouro, Ângela teve uma ideia incrível e bastante ambiciosa. Queria fazer algo diferente com uma obra grande. Depois de refletir sobre o que poderia fazer acabou por surgir a ideia de criar uma obra em formato de puzzle, composta por 25 quadros.
“Pensei e executei”, conta à New in Setúbal. Foi para o seu estúdio tentar reproduzir a ideia, sem pensar no que poderia dali surgir. Cortou a tela, fez as medições e já tinha tudo pronto para começar a pintar, só que precisava de pendurar na parede uma tela de três metros e 70 por dois metros e 90. “Bati à porta dos vizinhos para me ajudarem, mas não estava ninguém em casa. Entretanto lembrei-me de ligar às minhas duas tias e à minha mãe e pedi-lhes ajuda”. Assim que a tela estava pendurada, Ângela começou a pintá-la.
Durante 28 dias, de manhã à noite, o tempo da artista era para completar a obra. “Neste tempo pensei que isto não fosse correr bem porque todas as peças tinham de bater certo para ter o conceito de puzzle. Até pensei em desistir, mas fui tendo o encorajamento dos amigos e família que me permitiu continuar”, explica.
A ideia inicial da setubalense era vender as peças que formavam o puzzle, tanto que até já tinha algumas encomendas. No final, quando fizesse uma exposição sua, iria contactar as pessoas que tinham adquirido as obras e elas próprias montariam o puzzle na mostra da artista. Mal sabia Ângela que a sua própria obra iria fazer com que mudasse de ideias.
Durante a criação, a artista ia colocando fotografias do processo na sua página de Instagram, sempre indicando que se trataria de um puzzle. Recebia imensos comentários a dizer para não cortar a tela porque a obra completa estava incrível. “Comecei a ser influenciada por essas opiniões e cheguei até a pensar em não cortar, mas concluí que se desse asneira ia aprender e, se corresse bem, alcançava o meu objetivo”, confessa.
Uma vez terminada a obra, enviou-a para uma rapariga que faz as grades e as molduras das suas peças. Ângela explicou a sua ideia, que foi recebida com alguma surpresa e até receio com medo de estragá-la. “Ela não me disse nada durante cinco ou seis dias e estava mesmo ansiosa para saber se tudo tinha dado certo. Entretanto mandou-me uma fotografia dos quadros pequenos, já com as grades, e disse-me que tinha ficado espetacular”, relembra.
Assim que soube que podia levantar a sua obra fê-lo imediatamente e trouxe-a para o seu estúdio, onde começou a montá-la no chão. “Desarrumei o estúdio todo e demorei quase uma hora e meia a montá-la”, conta. Quando a colocou na parede percebeu que estava incrível e perguntou-se como teria feito algo assim. “Foi neste momento que soube que não podia vender o puzzle à peça porque ia perder completamente o conceito da obra. Tive de ligar aos clientes a dizer que não iam ter os quadros”, explica.
Esta peça já esteve exposta numa galeria de arte em Milão, Itália. Quando o espaço entrou em contacto com a artista para expor a obra, Ângela concordou, com a condição de que não a vendessem. Com alguma relutância, chegaram a um acordo. A galeria expunha a obra sem permitir a sua venda, mas em dezembro de 2022 voltariam a expô-la, desta vez, em Barcelona.
Neste momento ainda não se sente preparada para vender a obra. A artista acaba por desenvolver uma relação emocional com os seus quadros. “Esta é a minha melhor peça e sei que a vou vender, mas vai ser o dia mais triste da minha vida”, confessa. No puzzle está representado o expressionismo abstrato, o género onde se enquadra a arte de Ângela. Quando vemos um dos seus quadros, não estamos a prestar atenção à sua totalidade, mas às formas abstratas. “Há pessoas que me dizem que veem uma coisa e outras que veem algo completamente diferente, exatamente no mesmo sítio”, indica.
No caso do puzzle há uma expressividade que não é nítida porque não conseguimos perceber o que realmente é, mas podemos imaginar o que pode lá estar. “Gosto que as pessoas tenham a liberdade de imaginar o que quiserem”, conta. Assim que a artista publicou a obra na sua página, tem ganho imensos seguidores e já a abordaram para adquirir a totalidade da peça. Apesar de já ter considerado em fazer mais deste género, “nenhuma vai ser como esta”, reflete.
Coleção Move
Depois de ter terminado a Imaginarium, a setubalense pensou que deveria continuar a pintar coleções, criado a Move que não teve um início muito fácil. Pintou o primeiro quadro e deitou-o fora sendo que os restantes mais pareciam enquadrar-se na primeira coleção. “Andei um mês a pintar e a pôr os quadros de lado. Fartei-me de chorar porque achava que não ia conseguir pintar mais.”
A artista condicionou o seu trabalho à ideia de que tinha de criar coleções. Chegou à conclusão que não tinha nada de criar coleções, mas sim quadros. “Se tenho uma pintura tão livre, como é que vou estar a limitar as pessoas, que gostam do meu trabalho, a coleções?”, refletiu. Desprender-se desta barreira que criou na sua cabeça foi o melhor que podia ter feito. “Agora pinto o que faz mais sentido para mim, e tenho-me sentido mais completa a criar desta forma”, revela.
Da coleção Move podem esperar arte pura de Ângela Miranda Penedo, com o habitual expressionismo abstrato e o seu grande forte: cores vivas. “Fico doida com as cores, invisto imenso. Começo com uma base, uma só cor, e depois vou acrescentado”, explica. Quando as cores estão como a artista deseja, os quadros ficam prontos numa questão de horas. “Se estiver entusiasmada começo uma obra de manhã e acabo à noite”, confessa. Ainda assim, algumas podem levar entre três a quatro dias.
A setubalense indica que as pessoas lhe confessam que é a sua personalidade que está refletida nos quadros. “Não sou aquele tipo de artista que tem de estar triste para pintar. A minha cena é a espontaneidade e normalmente só pinto quando estou contente”, revela. Por enquanto, a artista ainda não teve oportunidade de fazer uma exposição só sua em Setúbal, mas esse é o seu desejo. No entanto, este ano já tem duas agendadas onde o puzzle estará presente, em Barcelona. Até lá pode ver as obras da artista na sua página de Instagram ou no site.
Já que aqui está veja algumas das obras de Ângela Miranda Penedo na galeria.