A adaptação para o cinema do vencedor do Pulitzer “O Pintassilgo”, de Donna Tartt, significava o adeus final de Ansel Elgort ao rótulo de “rapazito que fazia uns filmes para adolescentes”. Pelo menos até uma publicação no Twitter ter abalado a imagem daquele que era considerado um dos grandes novos talentos de Hollywood.
Sete meses depois da estreia do filme, uma desconhecida chamada Gabby acusava-o de a ter agredido sexualmente em 2014. Ela tinha 17 anos, ele 20. A acusadora acabaria por apagar a conta, mas a onda de reações espalhou-se e levou a que muitos pedissem o cancelamento de Elgort.
A verdade é que, durante dois anos, pouco ou nada se ouviu falar sobre ele, até agora. 2022 parece ser o ano do renascimento do rapaz imberbe e o currículo está aí para o provar. Foi o protagonista escolhido por Steven Spielberg para o seu “West Side Story” — que brilhou nos Óscares e ainda conquistou uma estatueta para Melhor Atriz Secundária — e é o protagonista de uma das novas boas produções da HBO, “Tokyo Vice”, o mais recente trabalho do realizador Michael Mann.
Aos 28 anos, o nova-iorquino filho de um prestigiado fotógrafo de moda, já fez ballet e brilhou em musicais até saltar para o cinema. Foi aí que começou em grande, com um pequeno papel na saga “Divergente”, ao lado de nomes como Shailene Woodley, Kate Winslet ou Miles Teller.
Porém, o papel que o colocou na lista de jovens talentos foi “A Culpa é das Estrelas”, onde se reencontrou com Woodley, mas desta vez como co-protagonista. O drama é um daqueles filmes que inevitavelmente termina em lágrimas: Hazel (Woodley) é uma jovem adolescente que é diagnosticada com cancro e, nos grupos de apoio, acaba por se cruzar com Gus (Elgort), um jovem que também combateu a doença e, juntos, vivem uma história de amor.
Até ao rebentar do escândalo em 2020, o seu papel mais reconhecido foi o de Baby, o protagonista de “Baby Driver”, o filme de ação de Edgar Wright que o coloca a par de Kevin Spacey, Lily James, Joe Bernthal e Jon Hamm. Um filme que conquistou três nomeações para os Óscares, ainda que nas categorias mais técnicas. A prestação de Elgort foi elogiada e viria apenas a esbarrar na polémica que se viria a reacender em 2022.
De volta às alegações da ainda desconhecida Gabby, a jovem revelou que era apenas uma fã que lhe enviou uma mensagem nas redes sociais, sem qualquer esperança de resposta. “Nunca pensei que ele visse a minha mensagem, eu era apenas uma miúda e uma fã”, escreveu. Ele respondeu. Uma coisa terá levado a outra e acabaram por ter relações sexuais.
“Quando tudo aconteceu, em vez de me perguntar se eu queria parar, sabendo ele que era a minha primeira vez e estava a chorar de dores, ele disse apenas uma coisa: “Temos que te atualizar”, escreveu. “Desliguei-me. Não conseguia sair dali (…) Além disso, continuou a pedir-me para lhe enviar imagens minhas sem roupa e tentou convencer-me a fazer sexo a três com uma das minhas amigas. Ele sabia que éramos menores e pediu para não dizermos nada porque lhe podíamos ‘destruir a carreira’.”
Para tirar qualquer dúvida sobre a veracidade da alegação, Gabby partilhou imagens dos dois juntos e das próprias mensagens que Elgort terá enviado. “Anos depois, continuo a sofrer de stress pós-traumático, sofro de ataques de pânico, faço terapia. Finalmente estou preparada para falar sobre isso.”
Elgort reagiu rapidamente com um pedido de desculpas, mas com a reafirmação de que nada fez. “Não posso dizer que compreendo os sentimentos da Gabby, mas a descrição dos eventos não refletem o que aconteceu”, escreveu pouco tempo depois nas redes sociais.
“Nunca abusei nem abusarei de ninguém.” O ator confirmou a “breve, legal e completamente consensual” relação, mas admitiu que não lidou bem com a separação. “Deixei de lhe responder, o que é cruel e imaturo. Sei que este pedido de desculpas não me absolve do meu comportamento inaceitável (…) Olhando para trás, sinto-me repugnado e envergonhado pela forma como agi.”
Porém, a confissão de Gabby foi apenas a primeira. Várias se seguiram e, recorrendo ao Twitter, contaram também a sua história. Quase todas eram jovens adolescentes, uma tinha 15 anos, quando iniciou contacto com o ator, que tinha então 20. Outra teria 14 quando alegadamente Elgort lhe enviou fotos do seu pénis. Sobre estes casos, Elgort não se pronunciou.
Seguiu-se uma espécie de ocaso de Elgort. As redes sociais ficaram mudas. A carreira ficou em pausa. O silêncio quebrou-se com a enorme boa nova da sua aparição na mega-produção de Spielberg, “West Side Story”, no final de 2021. A mancha na reputação parece ter ficado definitivamente para trás — mas os pedidos de cancelamento continuam a persegui-lo.
Os eventos de promoção dos seus projetos recentes têm sido geridos com pinças. Na Internet, os comentários multiplicam-se a par das críticas. Em frente às câmaras, as questões raramente surgem. Quando surgem, os seus colegas de elenco protegem-no.
“Ninguém sabe o que se passa na cabeça dos outros. Só as pessoas envolvidas é que sabem o que realmente aconteceu”, notou Ariana DeBose, co-protagonista em “West Side Story” e vencedora do Óscar.