Quando era pequeno, André de Brito lembra-se de ouvir vinis de bandas como Queen e Led Zeppelin que o pai trazia quando vinha do estrangeiro. Ao mesmo tempo, a mãe era professora de Literatura. No meio de tantos talentos, não escapou ileso e assumiu a veia artística desde novo.
O artista, 47 anos, natural de Lisboa, mas a morar em Azeitão, sempre gostou de cantar, mas só mais tarde é que desenvolveu a aptidão. Afinal, também o pai, além da música de vinil que fazia questão de ouvir, cantava e tocava guitarra. Entre os estudos em Engenharia, o gosto pela música e pela poesia e as formações, há ainda uma carreira musical construída ao longo dos anos.
Pode seguir os trabalhos do artista no site oficial, Instagram, Facebook e ainda ouvir as músicas no YouTube. A New in Setúbal falou com o cantor para perceber como foi o seu percurso, que projetos fez e que planos tem para o futuro.
Atualmente, tem projetos musicais. Mas qual é a sua formação?
Cresci em Almada e, aos 16 anos, comecei a estudar guitarra clássica na Academia dos Amadores de Música. Ingressei posteriormente no curso de Engenharia Física na FCT/UNL no Monte da Caparica, equilibrando a minha paixão pela música com os estudos em Engenharia. Após concluir a licenciatura em Engenharia Física, com especialização em Acústica, dediquei três anos ao estudo de canto e composição no Hot Club.
E depois disso?
Em 2005, fui para o Reino Unido fazer um mestrado em Acústica, em Salford, e voltei de novo em 2009 a esse país para outro mestrado, em Composição (“Songwriting”), em Surrey. Contudo, percebi que não queria seguir uma carreira académica e logo continuei o meu percurso como engenheiro acústico e músico a nível profissional. Devido a essas experiências no Reino Unido e, aos três anos, que vivi posteriormente em Londres, desenvolvi uma profunda conexão com a cultura anglo-saxónica (igualmente com os Estados Unidos da América, que já visitei algumas vezes).
E como é que começou o interesse pela música na sua vida?
Desde muito cedo, influenciado pelo ambiente artístico em que cresci. A minha mãe era professora de Literatura e o meu pai gostava de cantar e tocar guitarra. Lembro-me dele trazer vinis de bandas como Queen e Led Zeppelin quando vinha do estrangeiro. Quando era miúdo, também gostava muito de cantar, mas só mais tarde desenvolvi essa aptidão de forma mais séria. Embora tenha estudado piano na infância, foi durante a adolescência que o meu interesse pela música se tornou mais profundo.
E tem formação musical…
Sim, tanto em música clássica como em jazz. Além disso, fiz um mestrado com foco em música moderna que também abrange a escrita de letras de canções. Como adoro poesia e, às vezes, também a escrevo, sinto uma forte conexão entre esses dois mundos. No entanto, geralmente prefiro deixar o subconsciente tratar da parte criativa e só uso a formação musical quando realmente preciso dela.
E quando é que cantou ao vivo pela primeira vez?
Não me recordo exatamente da primeira vez que cantei ao vivo, mas tocar guitarra ao vivo terá sido, provavelmente, aos 12 ou 13 anos. Na adolescência, também participei em coros de música clássica, quando estudava na Academia de Amadores de Música.
Que experiências relacionadas com a música mais destaca?
Sou uma pessoa que tende a focar-me no futuro e também sou muito esquecido, mas recentemente encontrei alguma inspiração e força de vontade em continuar o meu percurso como artista nos prémios que o meu videoclipe “Queen of Spades” recebeu em festivais de cinema a nível internacional. Não que ligue muito a prémios, mas algum reconhecimento é sempre bom para continuar a remar e, acima de tudo, não desistir.
O que é que a música significa para si?
Antigamente, era mais idealista em relação ao mundo da música, encarando-a como uma missão artística. Atualmente, tento ser o mais pragmático possível. Estabeleço pequenos objetivos concretos, como “em setembro vou gravar um videoclipe para esta música”. A arte é uma parte essencial e constante da minha vida, mesmo que não queira. É como um bicho carpinteiro que corrói a madeira. Está lá sempre.
Ao longo do seu percurso, quais são os projetos que tem realizado?
Além de ter participado em algumas bandas de covers, desenvolvi um projeto original chamado MEL desde 2010 a 2017. Neste projeto, atuei principalmente como produtor e compositor em colaboração com a vocalista Melanie Salomão. Durante esse período, lançámos dois álbuns, “Give It To Me” (2011) e “New Soul” (2014). Realizámos várias tours, com apresentações em FNACs e também diversas performances em Londres. Após 2017, esse projeto entrou em modo de hibernação.
E a sua carreira foi continuando a desenvolver-se.
Além desses projetos, continuei a desenvolver a minha carreira como artista a solo. Lancei vários álbuns com destaque para o meu álbum “Queen of Spades”, lançado em 2023, e o meu novo EP “Dancing on Mars”, em março deste ano. Embora muitos considerem que o meu melhor álbum é o “Searching For You”, a minha produção mais recente também tem sido bastante significativa e prolífica. Durante a minha estadia em Londres, toquei várias vezes como banda e como artista a solo, incluindo no famoso Proud Camden, o que foi fundamental para o meu crescimento e evolução artística.
E como é que acaba por vir morar para Azeitão?
Regressei a Portugal em 2017, porque não me adaptei completamente ao Reino Unido e queria encontrar um espaço onde pudesse fazer música à vontade e com total liberdade. Com os preços das casas a disparar, adquirir algo em Lisboa estava fora de questão mesmo antes da pandemia. Acabei por alargar a busca e por acaso encontrei um espaço simples que atendia às minhas necessidades e que não me levasse à bancarrota.
E gosta desta zona?
Já conhecia bem a Margem Sul e acho que Azeitão oferece tanto praia como montanha, é uma zona muito tranquila e como gosto muito de natureza facilmente me adaptei. Só não gosto é dos invernos, são bastante frios e húmidos, pior do que em Londres. No entanto, não pretendo ficar a viver aqui para sempre; logo se verá. Tento não fazer planos para o futuro.
E qual é o significado das suas músicas? No que se inspira?
O trabalho em estúdio é uma verdadeira paixão para mim, especialmente porque sou introvertido e gosto de mergulhar profundamente no processo criativo. Apesar da diversidade da minha produção musical, não costumo focar-me muito no significado das minhas músicas. Muitas vezes, a temática das letras não está diretamente ligada à minha vida pessoal ou privada.
Ao que pode estar ligada, então?
Por exemplo, adoro cinema e gosto de usar filmes como inspiração para as minhas letras, explorando diferentes atmosferas e emoções. Também me inspiro em frases que oiço ou leio de pessoas, notícias ou livros. Escrevo maioritariamente em inglês, possivelmente devido à minha forte ligação com o mundo anglo-saxónico.
E quanto a colaborações?
Como toco vários instrumentos, incluindo piano, guitarra, baixo e bateria, muitas vezes acabo por fazer as gravações quase sozinho no meu espaço. No entanto, valorizo imensamente as colaborações com outros artistas, pois essas experiências são mágicas e oferecem novas perspetivas criativas. Por isso, às vezes peço a amigos meus músicos para participarem nas minhas músicas e estou sempre aberto a colaborar com outros artistas. Com a tecnologia existente, facilmente se grava em casa com alta qualidade.
Como assume o seu género musical?
O meu género musical é uma fusão eclética entre pop, funk e pop/rock, dependendo da música. Gosto de variar, o que pode ser talvez considerado hoje como um defeito, porque atualmente tudo é extremamente catalogado. Quanto aos espetáculos, a abordagem varia conforme o formato. Quando me apresento a solo ou em duo, os concertos tendem a ser mais intimistas e acústicos, criando uma atmosfera mais pessoal e direta. Em contraste, quando toco com a banda, as apresentações são mais energéticas e dinâmicas.
Como concilia a música com a sua vida?
Neste momento, consigo conciliar bem a música com a minha vida, principalmente devido à flexibilidade que tenho. Como trabalho maioritariamente a partir de casa, consigo gerir o meu tempo de forma eficaz, dedicando períodos específicos para a música e para projetos criativos. Além disso, não tendo família, tenho mais tempo livre para me dedicar a essas atividades. No entanto, o meu grande objetivo deste ano é rentabilizar a música, de uma forma mais séria. Para isso, estou a investir mais tempo e recursos na promoção e desenvolvimento dos meus projetos musicais com a intenção de explorar novas oportunidades e expandir a minha presença no cenário musical.
E já tem projetos para o futuro?
A curto prazo, gostaria de finalizar o meu novo álbum, gravar um videoclipe para um novo single intitulado “The Game is Lost”, expandir o meu canal de YouTube e encontrar pequenos espaços para tocar. No próximo ano, talvez possa tocar em alguns festivais que aceitem novos artistas. Paralelamente ao meu projeto a solo, estou a criar também música para filmes e séries de televisão devido à minha ligação com o cinema bem como a efetuar algum “networking”.
Mas tem investido na sua carreira a solo…
É a minha prioridade de momento. Sou um artista independente, sem vínculo a uma grande editora. Embora tenha estado associado a uma pequena editora no passado, decidi seguir um caminho mais independente para gerir a minha própria música. O futuro dirá se surgirão novas oportunidades nesse sentido ou se continuo como estou de momento.
Se pudesse fazer qualquer outra coisa no mundo, o que faria?
Se não estivesse focado na música, talvez me dedicasse a gerir um abrigo para animais pois tenho uma grande paixão por eles. No entanto, como o dia só tem 24 horas e é preciso fazer escolhas, atualmente concentro-me na música e no cinema.