Há filmes icónicos e momentos que ficam para sempre gravados na nossa memória. “A Dama e o Vagabundo” é uma produção intemporal — não fosse pela história de amor — e a GATEM — Espelho Mágico adaptou o texto para uma peça que se alia também a uma iniciativa social contra o abandono animal.
Foi em 1995 que surgiu esta companhia, pelas mãos de Céu Campos, Ricardo Cardoso e Fernando Guerreiro, que entretanto morreu. Na altura, os fundadores tinham dois programas de autor na rádio PAL, já extinta: “Arestas de Vento” e a produção infantil “Espelho Mágico”, conta Céu à New in Setúbal.
“Passámos por muitas rádios e estivemos sempre ligados à comunicação. Existiam muitos autores a trabalhar connosco, assim como músicos e outros artistas. Foi juntar essa boa gente e fazer um projeto de teatro. Tínhamos todos os ingredientes ali ao nosso lado”, acrescenta a diretora da companhia.
No fundo, a essência da GATEM está em fazer “teatro para toda a família”, em género de peças musicais, sempre com algo a “comunicar e transmitir”, de uma maneira “didática, lúdica, com muita fantasia e muita cor”. Fazem parte deste projeto com quase três décadas, no total, cerca de 20 elementos e têm cerca de dez peças em cena.
Ao longo dos anos, o percurso “tem sido de dentro para fora” e um dos momentos mais marcantes de sempre foi quando venceram o Prémio UNIR, em 2015, com a produção “O Principezinho”. Foi importante pelo que “representa, pela obra que é” e por terem sido reconhecidos e avaliados internacionalmente. Foram receber o prémio à Cidade Espanhola de Autores, numa sala cheia, que os aclamou como se pertencessem ali. Foi, frisa Céu, uma “conquista inesquecível”.
No dia 29 de julho, estiveram na Feira de Sant’Iago e fizeram animação itinerante. Eram uma trupe de circo que tinha sido despejada e queriam encontrar o caminho de volta. “Em cada sítio tem de se ter uma certa atitude e maneira de estar. É necessário adaptar a produção ao sítio, mas fazemos sempre coisas divertidas, cómicas, e o público adere bem porque sabemos onde fica a linha entre o incómodo e o entretenimento”, explica a diretora da GATEM.
Além da Carreira com 28 anos, existem protocolos e parcerias entre a companhia e algumas escolas secundárias do concelho. Acolhem estagiários dos vários cursos profissionais, como por exemplo os dois que estão por lá da Escola Secundária da Bela Vista. “É interessante perceber a evolução deles e muitos ficam ligados a nós, ainda que não sigam o caminho da arte do espetáculo”, explica Céu.
“A Dama e o Vagabundo” estreia no Fórum Municipal Luísa Todi
A peça é um clássico da literatura, num texto adaptado com 15 anos. Foram buscá-lo à gaveta e estreou inicialmente como “O Beco dos Vira-Latas”. A ação continua a passar-se nesse mesmo beco onde já existia a personagem da Dama, que foi agora readaptada para a estreia d’ “A Dama e o Vagabundo” que tem data marcada para 14 de setembro, às 21h30, no Fórum Municipal Luísa Todi.
“Na estreia de há 15 anos fizemos uma grande homenagem ao Fernando Guerreiro, ainda vivo, e foi um momento marcante para ele e para a companhia. Coincide agora com os 10 anos do seu falecimento e serve também para relembrar”, adianta a fundadora. A adaptação para a peça atual foi feita de modo que seja “um alerta para problemas muito atuais como as desigualdades sociais, falta de solidariedade, violência urbana, e sobretudo, o desrespeito pela relação humana com os animais de companhia”.
“Perdida e sem entender bem o que lhe estava a acontecer, Dama conhece o Gang dos Carrapatos, chefiado pela valente Rebeca e pelo seu ajudante Vagabundo e o Gang dos Rufiões. Rex, o terrível chefe do gang dos Rufiões, só pensa em vencer o Gang dos Carrapatos. Passa os dias a tentar tomar de assalto o ‘Beco dos Vira-Latas’, com a finalidade de conseguir os restos de comida apetitosa do Restaurante do Senhor António” é a sinopse da peça.
A história passa-se só com cães, não há humanos, e acontece na rua, onde vivem abandonados — à exceção de Dama, que foi obrigada a fugir de casa da dona. A personagem é inspirada na cadelinha Pipoca, falecida em 2022. Foi abandonada pela primeira dona aos 7 meses e depois acolhida por outra pessoa. Viveram em Setúbal e depois mudaram-se para o norte. Foi “muito feliz”, mas nem todos têm a mesma sorte.
Por mudar esse destino, nesta estreia, a GATEM preparou algo “completamente diferente”. Convidou dez instituições de abrigo animal para mostrar um animal de cada uma, que esteja para adoção, e que seja parecido com as personagens da peça. Os espectadores podem, assim, conhecer um patudo que queiram depois adotar. “Quisemos trazer a verdadeira essência deste texto adaptado”, reforça Céu.
A adaptação literária é do conto “Happy Dan, The Cynical Dog”, de Ward Greene. Céu Campos fez ainda encenação, cenografia e figurino.
Os bilhetes para assistir à peça custam 5€ e podem ser comprados na bilheteira online. Do público, a diretora espera “aquilo que normalmente oferecem”: uma casa completamente cheia e “muito carinho”. A peça está “muito divertida e vão existir surpresas”, mas é importante a vertente social “que pretende alertar para o abandono dos animais e ajudar as instituições que vivem com dificuldades”.