Olhos muito grandes, vários braços, cores diferentes e modelos muito curiosos. Estas são apenas algumas das características dos desenhos espalhados por Setúbal, da autoria do misterioso artista Chinelo. Como o conformismo não faz parte dos planos, agora também pode ver as peças de arte em artigos de vestuário.
A mais recente novidade é a colaboração com a marca de streetwear Ementa, lançada a 28 de agosto. “Já ando de skate há uns bons anos e conhecia a Ementa há bastante tempo. Entretanto, fui tomando contacto com ela através de um amigo que é patrocinado por eles e decidimos fazer uma colaboração”, explica o artista, de 26 anos, à NiS.
Os desenhos foram exclusivamente feitos para a parceria. Das peças, destacam-se as T-shirts (65€), meias (15€) e calças (110€), com várias imagens das famosas figuras de Chinelo. Até ao momento, foram lançadas três drops: a “flower”, “cake” e “tucanos”, sendo que alguns artigos já se encontram esgotados. A coleção tem diversas cores, modelos e tamanhos, sendo as peças 100 por cento algodão, à exceção das meias. Pode encomendar online, através do site oficial da marca.
Chinelo nasceu e cresceu no universo do graffiti e do skate. “O gosto pelo graffiti nasceu no Largo de Jesus, onde andava de skate e o pessoal ia grafitar. Por isso, desde pequeno, que me interesso por esse meio”, conta à NiS o jovem setubalense. Começou por ir desenhando por brincadeira e paixão alguns bonecos no sketchbook que, mais tarde, viriam a ganhar vida fora do caderno.
Apesar de ter vivido e estudado na cidade do Sado, foi em Praga, na República Checa, que tudo começou. Era conhecido sobretudo pelas suas colagens e foi convidado para fazer uma exposição na capital onde viveu quatro anos. Foi nessa altura, mais precisamente no verão do ano passado, que a ideia de colocar os projetos na rua começou a ganhar forma.
“O trabalho que faço na rua foi o que apresentei na exposição. Quando acabou, fiquei com tudo em casa e achei que podia ser engraçado pôr na rua. Foi aí que as ideias começaram a surgir”, relembra. O primeiro boneco apareceu na entrada do metro de Praga e tratava-se de uma cara a dizer “lost” na cabeça.
“Inspiro-me muito em mitologia e natureza. Tento passar mensagens através das caras, é quase como um autorretrato”, sublinha. No entanto, admite que gosta que sejam as próprias pessoas a atribuir um significado.
As ideias são retiradas dos seus desenhos no sketchbook e, na altura de escolher um, opta por aquele que lhe fizer mais sentido no momento. Em Setúbal, em vários cantos, continuam a aparecer vários trabalhos de Chinelo. O objetivo é ir explorando sempre novas possibilidades e também cidades distintas.
Porém, foi em 2002, na Amadora, que Raphael Castilho e os amigos, Emídio Silva, Nikita Gorev e Gustavo Ribeiro se reuniram diariamente para praticar skate. Como não existiam parques adequados, dedicavam-se a construir obstáculos e rampas para realizar acrobacias.
O tempo foi passando, as responsabilidades escolares aumentaram, mas as reuniões (quase) diárias continuaram. Após cinco anos, surgiu a proposta de desenharem T-shirts exclusivamente para os vídeos que partilhavam no YouTube, o que resultou numa onda de pedidos.
Entre altos e baixos, como uma dívida ao banco, a primeira coleção não correu como esperavam. Ainda assim, os membros do grupo investiram em empregos estáveis e começaram a fazer mercados na capital para pagar o empréstimo. Aos poucos, a marca ganhou dimensão online e encontrou o seu público. Neste momento, contam com quatro lojas físicas espalhadas pelo País.
Carregue na galeria para conhecer alguns dos trabalhos que Chinelo espalhou pelas ruas de Praga e Setúbal.