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A nova coleção desta marca setubalense nasceu de um colchão de campismo

Peonya, nome artístico de Rita Silva, criou o projeto now or never em 2022. Há porta-chaves, carteiras e bolsas.
Tudo por uma moda mais sustentável.

A primeira máquina de costura que Rita Silva recebeu foi oferecida pela avó, que foi costureira. Em 2022, fez umas calças com retalhos e outras peças de ganga que já não usava. Fez uma sessão fotográfica, publicou nas redes sociais e foi um sucesso. As segundas calças que confecionou, em 2022, foram feitas com amostras de tecidos de uma fábrica que iam para o lixo. “Os tecidos tinham um aspeto de ‘avózinha’. Olhei para eles e imaginei-me a beber um chá, sentada num sofá, enquanto falava sobre a vida com a minha avó. Daí, surgiu o nome ‘Grandma’s sofa’. Estas calças foram apenas o início”, começa por contar à New in Setúbal.

Na verdade, este foi o mote para um projeto de confeção de roupa sustentável, da setubalense de 19 anos. Estudou Moda, em Lisboa, na escola Magestil, de 2020 a 2023, e foram “três anos de muita dedicação”, a levantar-se às seis da manhã e a chegar a casa às 20 horas. “Quanto mais me aprofundei na área da moda, mais noção ganhei do quão poluidora é, sendo a segunda indústria mais poluente do mundo. A oferta da minha avó, que foi a máquina de costura, começou uma vida mais sustentável”, explica Rita, que usa o nome artístico Peonya nas suas criações.

Em setembro de 2022 surge a marca now or never, “uma marca amiga do ambiente com peças únicas”. Na primeira coleção, Rita usou o mesmo nome e tecidos das calças “Grandma’s Sofa”. “Foi uma coleção pequena que serviu como teste para ver se tudo valia a pena. Com a coleção praticamente toda vendida e muitos elogios, percebi que sim, estava no caminho certo”, diz.

O interesse pela moda nasceu consigo. “Sempre adorei misturar cores, acessórios e, principalmente, vestir o que sentia. Atualmente priorizo sempre o estilo mas sobretudo o conforto. O que se mantém é o amor pela criatividade das pessoas. Sempre me cativou ver desconhecidos e conhecidos bem vestidos, automaticamente melhora o meu dia porque é arte. A arte está por todo o lado”, defende.

O mundo da moda está em constante mudança. O que se vestia nos anos 80 voltou a ser tendência 40 anos depois e, por isso, não há uma definição para este conceito. “A moda, para mim, é exteriorizar o que sentimos. Conseguimos ler uma pessoa apenas por aquilo que ela veste. É forma de expressão, um instrumento que nos traz autoconfiança, praticidade, humor e conforto. É também relativa, mas, de qualquer das formas, todos temos algo que nos caracteriza”, acrescenta Rita.

Este verão, o colchão de campismo do irmão rebentou e, aparentemente, a solução é sempre deitar fora. Porém, Rita não o fez e assim nasceu a coleção “Sleep on it”, onde o único material usado foi o colchão. “Foi uma experiência incrível, mas na moda, assim que se acaba uma coleção, começa outra. Gostava de futuramente focar-me em peças de roupa e não só acessórios, mas devido à desvalorização da moda e de peças únicas, já não são todas as pessoas que estão dispostas a comprar, optando assim pela fast fashion, a minha maior inimiga. Tinha de começar por algum lado, então iniciei-me com os acessórios, quem sabe um dia quando a marca crescer mais se não venda roupa”, frisa.

A sustentabilidade foi uma preocupação desde o momento em que começou a idealizar o seu projeto — e até antes disso. “Já há tanto desperdício no mundo, não quero fazer parte disso. Poderia fazer o que eu quisesse, com um tecido qualquer, e seria fácil. Já há tanta roupa que é mais do mesmo e tanta gente sem saber o que fazer com as peças ou a comprar sem nunca tirar a etiqueta. Quero limpar a ideia da cabeça das pessoas que a roupa em segunda mão é suja. Felizmente, já existem lojas e sites de roupa que promovem o conceito, mas ainda não são bem vistas por todos”, diz.

A coleção e o processo criativo 

A “Sleep on it” foi a primeira coleção que teve uma sessão fotográfica com quatro modelos, uma pessoa responsável pelas luzes e outra pelo marketing e gravação de making off. Toda a sessão foi realizada na sala multiusos do estúdio municipal NBNC, “um espaço gratuito e aberto a vários projetos”. A nova coleção foi anunciada em outubro e é feita com o colchão insuflável, que tem tons de cinza e, por isso, Rita idealizou “uma coleção com um aspeto futurista e prático, para qualquer género e faixa etária”. Não teve uma inspiração temática, até porque, ao contrário do processo criativo comum, obteve primeiro o material e só depois pensou no que queria transmitir.

É preciso “muita organização na gestão do tempo e das etapas” do processo de confeção. Rita começa por fazer uma pesquisa de cores e tecidos consoante o mês e estação. Em seguida, coloca os tecidos, peças e materiais que recolheu em doações, para agrupar e selecionar com quais deles faria as peças. Depois, começa a modelagem das peças e corte do tecido. Daqui para a frente, deixa o processo decorrer. “Sempre quis que a now or never não fosse só uma marca comum, com tudo perfeito. Sou muito criativa e faço tudo de forma diferente. Qual o sentido de a minha marca não ser igual? Transformo ‘falhas’ em características. Com o produto terminado, coloco a etiqueta e tiro as linhas soltas. Por último, lavo as peças e, assim, ficam prontas para a sessão fotográfica”, explica.

Os produtos para venda vão desde vários estilos de carteiras e tote bags, aos nécessaires, chapéus, porta-chaves e bolsas de peito. Os valores das peças vão desde os 35€ aos 65€, dependendo da “complexidade, material e tempo de confeção”. Há também porta-chaves a 5€ e Rita faz ainda “bainhas, ajustes e peças personalizadas”, sob consulta.

O projeto está a correr bem. “Sempre tive a sorte de ter as pessoas certas à minha volta, uma família e amigos que sempre me apoiaram e que me deixam voar. Os sonhos são frágeis para os artistas, com tanta facilidade nos inspiramos como temos vontade de desistir. Se nós nos focarmos nos nossos sonhos e apenas absorvermos o que nos faz crescer, nada nos vai abalar, é esse o segredo”, esclarece Rita.

Futuramente, a jovem gostava de fazer uma coleção de T-shirts e fatos de treinos, com estampas engraçadas. “Acredito que a moda tem muito humor à mistura e gostaria de me focar nisso. Gostaria também de fazer uma exposição sensorial, onde conseguisse atrair as pessoas apenas com a minha arte e com os seus cinco sentidos”, remata.

A escolha do nome “now or never” tem um duplo sentido. O primeiro remete para a necessidade “de agir, agora ou nunca” pela sustentabilidade na moda e “a luta contra a fast fashion”. O segundo recai no facto “das peças serem únicas”, comprando também agora ou nunca, já que não haverá outra peça igual. Siga o Instagram da marca para saber as novidades.

Em seguida percorra a galeria e conheça as criações da nova coleção de Peonya, “Sleep on it”, para o projeto sustentável de moda, now or never.

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