Antes do surgimento das grandes cadeias de retalho, as famílias faziam as suas compras nas mercearias. Ainda existem aldeias que têm mercearias com vários anos de história e que contam com clientes habituais e fiéis. Contudo, atualmente, não é algo que se veja nas grandes cidades. Os anos passam, os tempos mudam e as tradições ou se mantêm ou se renovam.
Com um pé no passado e outro no presente, os amigos Gonçalo Rasteiro, 36 anos, e Luís Santos, 41, decidiram apostar no negócio das suas vidas: a mercearia gourmet Os Vizinhos, na Avenida Joaquim Lino dos Reis, em Palmela.
Os amigos, que se conheceram através das suas mulheres, já tinham criado um primeiro projeto durante a pandemia focado nas entregas ao domicílio de cabazes de fruta e legumes de produtores locais. “Na altura da pandemia ficámos desempregados e decidimos apostar neste projeto. Começámos com os cabazes através do serviço ao domicílio e, após uma grande luta, abrimos o estabelecimento físico”, contam à New in Setúbal.
A ideia inicial dos responsáveis sempre foi abrir a mercearia gourmet e, mais tarde, com o negócio a funcionar, introduzir os cabazes de fruta e legumes. Contudo, “com as voltas da vida acabou por ser ao contrário”, confessam. Durante a pandemia não quiseram arriscar num negócio com espaço físico porque as pessoas não podiam sair de casa. Por isso reinventaram-se e tiveram bastante sucesso.
Para criar o projeto dos cabazes, Gonçalo e Luís tiveram de encontrar produtores locais. “Andámos à procura deles. Víamos na Internet, íamos aos mercados de produtores e acabámos por estabelecer contactos”, revelam. Deslocavam-se ao mercado abastecedor de Setúbal, que acontece três vezes por semana, e conheceram vários produtores e vendedores que os ajudaram na procura.
Acabaram por encontrar vários produtores que fizeram crescer o negócio. Muitos deles já reformados, cujos produtos vêm das suas hortas ou terrenos. “Nunca mais nos esquecemos do primeiro produtor de tomates com quem estivemos. Fomos ter com ele, vimo-lo a pegar num balde e foi de bicicleta e deixámos de vê-lo. Já pensávamos que se tinha ido embora, mas depois voltou com o balde cheio de tomates acabados de apanhar”, contam.
A mercearia gourmet
Com o alívio das restrições da pandemia, as pessoas começaram a querer sair mais à rua e a visitar espaços físicos. Por isso, os cabazes acabaram por ser menos solicitados. Foi nesta altura que Gonçalo e Luís decidiram avançar com o grande sonho de abrir o próprio espaço. Assim nasceu a mercearia gourmet Os Vizinhos, aberta desde o dia 14 de junho, terça-feira.
Quando eram miúdos, os dois responsáveis lembram-se de frequentar as mercearias do bairro onde cresceram e raramente sabiam o nome das pessoas, então chamavam-nos de ‘vizinho’. “Quisemos criar esta proximidade com o cliente e a ideia não é sermos uma superfície comercial, mas sim um espaço familiar em que os clientes chegam e perguntam: ‘vizinho tem isto ou aquilo?’”, indica Gonçalo.
Além disso, o objetivo também é transmitir o conceito das mercearias antigas. “No passado íamos a estes sítios e os produtos ainda vinham com o cheiro da terra porque tinham sido colhidos há pouco tempo. Queremos transpor este conceito”, sublinha Luís. Desta forma, pode encontrar no espaço produtos nacionais gourmet, frutas e legumes de produtores nacionais, queijos e enchidos, e outros produtos que podem faltar na sua despensa, como iogurtes, cereais, sacos do lixo ou papel higiénico.
Os amigos não quiseram abandonar o projeto dos cabazes, pelo que, ainda os fazem e têm pedidos, embora não sejam na mesma quantidade que durante a pandemia. A diferença é que, como agora têm mais variedade de artigos através da loja, o cliente pode trocar algum produto por outro que prefira ou precise.
Todas as semanas há um cabaz pré-feito com frutas e legumes, na sua maioria da época, embora existem outros, como as bananas, que há o ano inteiro. A ideia destes cabazes é dar às pessoas a oportunidade de conhecer novos produtos. “Temos uma cliente que não conhecia a couve pak-choi e levou num dos cabazes. Agora, cada vez que há, pede-nos sempre porque adorou”, contam. O serviço de entregas está disponível na zona de Setúbal e concelhos vizinhos, como Barreiro, Moita, Palmela, Alcochete, entre outros. Pode fazer a encomenda através do número de telemóvel 926 233 775.
Os produtos gourmet à venda na mercearia têm todos o selo nacional. Os responsáveis não quiseram cingir-se à região mas antes dar visibilidade a outros artigos portugueses. “Encontrámos alguns destes produtos quando íamos de férias em conjunto. Provávamos algo que gostávamos e, quando começámos a criar o projeto, lembrávamo-nos dessas coisas e fomos procurando outras”, indicam.
Nas prateleiras da mercearia pode encontrar azeite e vinagre aromatizados, mel, chá, compotas, conservas, cervejas artesanais ou licores. Há também produtos da região, como alcagoitas, bolachas da feira e queijos. Os enchidos são de Serpa. “Quisemos ir buscar os produtos mais genuínos possíveis”, revelam.
Uma das paredes do espaço tem três prateleiras com produtos embalados, como feijão, grão, chá e até quinoa, mas a ideia é que estes sejam a granel. “Queremos ter os produtos em frascos e servir em saquinhos de papel, até porque tentamos evitar o plástico ao máximo”, indicam. Os amigos ambicionam ter mais (e diferentes) produtos a encher estas prateleiras, mas ainda estão à procura de fornecedores.
Além de produtos para consumir, Gonçalo e Luís também quiseram dar visibilidade ao artesanato. A marca Mwani está presente e tem artigos em pano, desde elásticos, porta-chaves, apara-pingos para as garrafas e até saquinhos para estas. Há ainda trabalhos em madeira, como tábuas e bases de copos da página Deixa a Casa em Paz e produtos como bombas de banho, sabonetes e champôs do site Árvore do Sabão.
Nas restantes prateleiras da loja estão produtos que pode encontrar em qualquer superfície comercial, como bolachas, papel higiénico, café e até carvão. Estes são o tipo de artigos que os clientes nem sempre têm na despensa e podem recorrer à mercearia para adquiri-los. “Somos sinceros: quem fez a lista destes produtos foram as nossas mulheres”, contam entre risos. “Nós estávamos ocupados a construir os móveis da fruta e dos legumes e o balcão”. Gonçalo e Luís quiseram mesmo dar o seu toque pessoal e torná-lo mais especial ainda.
O horário de funcionamento do espaço é das 8 às 21 horas de terça-feira a sexta-feira, das 9 às 19 horas ao sábado, e das 9 às 13 horas no domingo. Neste momento ainda estão a estudar os horários dos clientes. “Muitas das pessoas que vivem aqui trabalham em Lisboa. Portanto, só chegam a casa depois das 19 horas e só nessa altura é que vão fazer o jantar e dão conta do que pode faltar para a refeição”, rematam.
Quem manda nisto tudo?
Nome: Luís Santos/Gonçalo Rasteiro
Idade: 41/36
Prato favorito: Bacalhau à brás/Carne grelhada com arroz
Guilty pleasure: Queijo/Doces
Convença-nos a visitar o espaço: “Queremos trazer o que há de bom dos nossos produtores locais e nacionais, para dar a conhecer aos nossos vizinhos”.
De seguida, carregue na galeria para conhecer a mercearia gourmet Os Vizinhos.