Um dos grandes culpados pelo sonho de uma vida de ostentação e luxo é a personagem do icónico livro de F. Scott Fitzgerald, “O Grande Gatsby”, publicado em 1925. Neste romance, conhecemos a história de um milionário de Nova Iorque, que dá as maiores festas de que há memória. No meio do turbilhão de acontecimentos, há, claro, o amor, que desencadeia uma série de situações trágicas.
Neste caso, não existe espaço para dramas. Aliás, no novo espaço que abriu em Setúbal, inspirado nesta obra e nos loucos anos 20, só há motivos para celebrar, — e muitos cocktails para o fazer, ao estilo de uma adaptação moderna. O Gatsby Cocktailaria foi inaugurado no dia 16 de janeiro, na Rua Arronches Junqueiro. O casal, proprietário do negócio, Tracy Thompson, 40 anos, e Derrill Thompson, de 60, querem trazer vida, euforia e música à Baixa setubalense.
Naturais de Vancouver, Canadá, conheceram-se através de amigos em comum, há cerca de 15 anos, e houve, desde logo, uma “conexão muito forte, apesar da diferença de idades”, conta Tracy à NiS. Estavam num barco, numa festa que durou cerca de cinco dias. Em 2012, casaram-se, e, nesse ano, Tracy tornou-se cofundadora da empresa de accounting software, Bean Works. Derril foi advogado durante 20 anos.
Em 2021, depois da empresa de Tracy ser vendida, decidiram reformar-se e vir para Portugal. “Vancouver é uma cidade maravilhosa, mas estivemos lá durante a nossa vida toda. Era altura de procurar algo novo. E adoramos viajar e explorar. A primeira vez que viemos visitar o País foi em 2017, a Albufeira e Lisboa, durante sete dias. Quando nos mudámos, sabíamos que queríamos vir para a Europa, mas aqui as pessoas são amorosas, o clima é muito bom e o custo de vida é mais acessível, além das condições de emigração”, explica Tracy.
Sabiam que queriam viver numa cidade com 100 mil pessoas, perto de Lisboa ou do Porto, com um centro histórico, e que estivesse sempre em evolução e dentro das tendências. “A escolha acabou por ser óbvia e, claro, ficámos em Setúbal. Fizemos uma tour online, na zona da Baixa, e viemos embora com duas malas e o nosso bulldog francês, Gruntle”, acrescenta.
O casal confessou à NiS que veio “às escuras” e nunca tinha estado na cidade antes disso. Chegaram num sábado e, no dia seguinte, foram dar uma volta, mas estava tudo vazio. “As persianas estavam fechadas, tudo cheio de graffitis e de edifícios abandonados e começámos a perguntar-nos onde é que nos tínhamos metido. Era agosto, de manhã, e provavelmente estava tudo ainda a dormir, mas sabíamos tão pouco acerca de Setúbal que levámos algum tempo a conhecer tudo”, revela.
Relembra que a comunidade de emigrantes que existe hoje, não era a mesma de há quatro anos e que, nessa altura, tiveram de descobrir muitos caminhos sozinhos. Começaram a fazer amigos, a conhecer a zona e pensaram que, afinal, era uma boa escolha, pelo menos durante aquele ano, enquanto conheciam o resto do País, sendo que as distâncias entre as localidades também eram uma nova realidade para os canadianos — o percurso que faziam de norte a sul do Canadá, “em 42 horas”, fazem em “cinco horas”, em Portugal.
Tracy é coadministradora da comunidade setubalense, onde estão muitos estrangeiros que se fixaram na cidade. “Apercebi-me que uma das minhas paixões era construir esse sentido de grupo, especificamente tendo em conta que o projeto é para emigrantes, mas também para portugueses. Somos novos e temos muito para aprender. É bom ter alguém que, nesses casos, nos aponte na direção certa. Queríamos integrar-nos e não nos afastar”, diz.
Entretanto, surge a ideia de criar um bar. “Se me perguntarem, eu vou dizer que a ideia foi do Derrill, mas se lhe perguntarem, ele vai dizer que partiu de mim. A verdade é que eu tinha falado com as minhas amigas de Vancouver e tinha dito que íamos abrir, um dia, um bar. E, ao contrário, eu diria que o meu marido não é muito bom a ser um reformado. É bom em muitas coisas, mas essa não é uma delas”, brinca Tracy.
A ideia era começar o negócio na Praça do Bocage, já que tinham um espaço pequeno, mas o projeto acabou por não avançar. Depois disso, no ano passado, mostraram o atual local, onde era anteriormente uma galeria. Não quiseram comprar de imediato, mas a verdade é que não conseguiam deixar de pensar no sítio, que sabiam “ter potencial para algo muito especial, com as áreas separadas, do bar, e dos espetáculos”.
“Somos muito impulsivos e acabamos por dizer ‘porque não’, e, assim, adquirimos este rés-do-chão. Os nossos vizinhos são fantásticos e gastámos muita energia e esforço em fazer com que este local fosse à prova de som. Até temos esse certificado e era mesmo importante para nós garantir que não íamos provocar nenhum incómodo, nem sequer no bairro. Está tudo preparado para isso e nem o bass se sente”, reforça a proprietária.
Conceito de luxo partilhado
A decoração do espaço, que é um dos destaques principais do Gatsby, foi mesmo inspirada na obra e no estilo de vida do protagonista da história de Fitzgerald, que vivia nos anos 20, com “grandes festas”, além de adicionarem o conceito de bar de cocktails, o que chamaram de cocktailaria, que é algo “pouco explorado em Setúbal”.
“Combinou tudo até porque eu acho que noutra vida o Derrill foi um chefe da máfia italiana ou, pelo menos, o advogado deles. Adoramos coisas que sejam extravagantes e que exijam criatividade, e, por isso, investimos neste tema”, brinca.
O facto de quererem chamar cocktailaria, uma palavra que não é muito usada na língua portuguesa, deu mais força à implementação do conceito da cultura de bar de cocktails na cidade. No menu, há duas espécies de bebidas disponíveis: as lendas literárias, onde, numa espécie de homenagem à receção que sentiram em Portugal, os maiores escritores portugueses batizam os cocktails, e os clássicos, que são alguns dos favoritos e mais comuns, ainda que com alguns twists “únicos”.
Assim, vai encontrar no Gatsby, em formato de cocktail, e na secção de “Lendas Literárias”, os lusíadas (Luís de Camões), basílio (Eça de Queirós), charneca em flor (Florbela Espanca), cegueira branca (José Saramago), heterónimos (Fernando Pessoa), boémio (Bocage), libertário (Almeida Garret) e terra e mar (Sophia de Mello Breyner). Todas estas criações são da autoria do Gatsby, e preparadas no laboratório, onde a magia acontece. Os valores variam entre os 9€ e os 12€.
Por outro lado, no menu, há hipótese de provar os clássicos elevados, entre aperol spritz (9€), expresso Martini (10€) ou margarita (10€), bem como caipirinha (9€), cosmopolitan (9€) ou daiquiri (9€). Estão identificados todos os alergénicos, bem como os ingredientes, que as bebidas levam. Há também vinhos da Herdade de Rocim à venda no estabelecimento, além da cerveja, outras bebidas espirituais e, claro, não alcoólicas também. Estão ainda previstos espetáculos de música ao vivo todos os sábados.
Carregue na galeria para conhecer o novo espaço setubalense, Gatsby Cocktailaria.