Leu bem. Este é um restaurante onde quem espera os clientes à porta é o marisco, literalmente. Vivo, tal como foi pescado. No Enigma dos Mariscos, em Azeitão, existe uma espécie de viveiro com uma variedade enorme de crustáceos, maiores ou mais pequenos, que pode comer no local ou levar para casa — afinal, foi assim que tudo começou.
O conceito inicial nasceu em 2022, pelas mãos de Inês Tiopista, 31 anos, e António Lourenço, 56, ambos de Sesimbra. São pai e filha e António. Ele sempre foi pescador na sua terra e a paixão pelo mar começou logo à nascença. António tinha também uma empresa de importação e exportação de marisco onde Inês ajudava o pai. Depois, decidiu abrir este negócio e as suas vidas mudaram.
“Ele dizia-me ‘Inês, temos de abrir uma peixaria’, mas eu respondia sempre que isso não”, confessa à New in Setúbal uma das fundadoras do projeto.
Surgiu, então, a ideia de vender marisco em modo take away. Foi esse o projeto inicial que nasceu numa casa praticamente ao lado de onde está o atual restaurante. Só que, com o passar do tempo, havia cada vez mais clientes que diziam que melhor do que levar, era mesmo comer logo ali no local.
“Em Azeitão não existe muito este conceito. Surgiu da necessidade que víamos que as pessoas tinham de ter um sítio onde pudessem escolher o prato e comer, tranquilamente”. Assim, a 11 de agosto deste ano, abriu o novo restaurante “dois em um”. Ou seja, mantém-se o serviço take away, mas agora também serve refeições.
“As pessoas já não querem levar para casa. O que começámos a perceber é que levavam porque não tinham onde comer”, acrescenta Inês. Aqui, agora, “conseguem perceber exatamente o que vão comer”, o que não é frequente na marisqueira. Aliás, com tanto marisco à porta, é quase inédito.
“Quem entra e não conhece, fica muito espantado e agradado, claro. Os clientes conseguem ver o que vai ser confecionado e que sai tudo dali, até porque, a maior parte da ementa é o que está também no take away”.
Além disso, nada é congelado e é tudo cozido com água salgada, comprada aos litros na Docapesca. O grande objetivo foi, assim, “marcar pela diferença”. Porém, nem tudo é um mar de rosas: para ser realmente diferente é necessário muito “investimento e trabalho”, porque é preciso mudar o tanque e vigiar o marisco. A lagosta, por exemplo tem de ser alimentada com regularidade.
Inicialmente, “quase todos” os clientes eram habituais, mas Inês considera que o “passa a palavra é fundamental” para o sucesso de qualquer projeto. E, de facto, muitos dos que visitaram o espaço na abertura, voltaram passado dois dias. E é preciso sublinhar que, por aqui, não há reservas.
“O conceito que quisemos criar não foi o de petisco de ‘chegar e andar’. É para estar tranquilo e sem confusões. Desfrutar e degustar com calma”, acrescenta a dona do Enigma do Marisco.
Os responsáveis mudaram-se, assim, do espaço do antigo take away para o outro lado da rua. O sítio que escolheram para se fixarem era uma antiga frutaria, por isso, foram necessários sete meses de obras e uma remodelação total — que valeu a pena. O novo espaço está apelativo, com várias referências ao marisco e ao mar, como um aquário, cores azuis, madeira e muita luz. A decoração foi toda escolhida por Inês, com a ajuda do sesimbrense João Cruz, que tomou conta de parte da criatividade, enquanto a obra ficou a cargo da empresa Batoque, com a mão de toda a família, que ajudou.
A New in Setúbal já passou por lá
Assim que chegámos ao Enigma do Marisco, fomos prontamente recebidos à porta. A equipa conta com um total de sete elementos, todos simpáticos e igualmente rápidos no atendimento. Os pratos que provámos foram escolhidos pessoalmente por Inês. Começámos pelo couvert, composto por queijo de Azeitão (7,50€), azeitonas (1,50€), manteiga de erva e alho (1,50€), paté (2,50€) e um cesto de pão (2€). As lapas (16€) chegaram na chapa e com um cheiro que dava para sentir do outro lado da sala. Saborosas e frescas, não sobrou nenhuma — e vieram acompanhadas de pão torrado (3€).
Em seguida, serviram o lagostim (79€ o quilograma), que, pela textura e sabor, não restavam dúvidas da boa qualidade — além do cuidadoso empratamento. As ostras ao natural (22,50€ o quilo) guardavam uma explosiva surpresa — além de serem uma delícia —, que vamos deixar em segredo. Mais tarde, chegaram à mesa as gambas panadas com chutney de maracujá e molho de manga com malagueta fresca (15€) — um prato crocante, em que dá para sentir toda a envolvência de sabores.
Houve ainda tempo para o caril de gambas (20€), feito com verdadeira imaginação. As gambas não vieram destapadas, mas bem envolvidas no molho que estava dentro de um ananás prontamente decorado. Ainda que a dose seja para uma pessoa, é generosamente servida e, acredite, vai querer comer tudo. A acompanhar, bebemos uma sangria de melancia (26,50€), especialidade da casa e muito concorrida
As sobremesas não desiludiram. O enigma (5,50€) e a mousse de chocolate branco (4,50€) tinham uma textura, sabor e apresentação sem falhas. Foram a escolha perfeita para fechar a refeição.
Percorra a galeria para conhecer este novo restaurante que nasceu em Azeitão.
